A Holanda mergulhou em uma crise política de proporções significativas após o colapso do governo de coalizão liderado pelo primeiro-ministro Dick Schoof, anunciado em 3 de junho de 2025. A ruptura foi desencadeada pela decisão de Geert Wilders, líder do Partido pela Liberdade (PVV), de retirar sua legenda da aliança de quatro partidos, motivado por discordâncias irreconciliáveis sobre a política migratória do país. Wilders, cuja plataforma prioriza a identidade nacional e a redução drástica da imigração, exigiu a implementação imediata de um plano de 10 pontos que incluía o fechamento das fronteiras a requerentes de asilo, a deportação de refugiados sírios e o reforço dos controles fronteiriços. A recusa de seus aliados em endossar integralmente essas medidas levou ao fim do governo, que durou apenas 11 meses, e abriu caminho para eleições antecipadas, previstas para o final de 2025. A decisão de Wilders, embora controversa, reflete uma postura firme em defesa da soberania holandesa e da preservação cultural, ressoando com aqueles que priorizam a segurança e a identidade nacional.
O PVV, sob a liderança de Wilders, conquistou 37 dos 150 assentos nas eleições de novembro de 2023, tornando-se o maior partido no Parlamento holandês. Após meses de negociações, a coalizão foi formada em julho de 2024 com o Partido Popular pela Liberdade e Democracia (VVD), o Novo Contrato Social (NSC) e o Movimento Agricultor-Cidadão (BBB), sob a promessa de adotar a política migratória “mais rigorosa da história” do país. No entanto, Wilders, conhecido por suas posições contundentes contra a imigração e o islamismo, expressou crescente frustração com a lentidão na implementação de suas propostas. Seu plano de 10 pontos, apresentado no final de maio de 2025, incluía medidas como o fechamento de centros de acolhimento, o fim da reunificação familiar para refugiados e a deportação de cidadãos com dupla nacionalidade condenados por crimes. A resistência dos parceiros de coalizão, que preferiam discutir as propostas no Parlamento, foi interpretada por Wilders como uma traição ao compromisso original, levando-o a anunciar a saída do PVV em uma publicação nas redes sociais: “Sem assinatura para nossos planos de asilo, o PVV deixa a coalizão.”
A decisão de Wilders foi motivada por uma visão clara de colocar a “Holanda em primeiro lugar”, como ele reiterou em diversas ocasiões. Em declarações públicas, o líder do PVV tem enfatizado o impacto da imigração em massa na identidade cultural do país, afirmando que “as ruas da Europa Ocidental parecem cidades árabes medievais, cheias de véus e burcas”, o que, segundo ele, faz os holandeses se sentirem “estrangeiros em seu próprio país”. Essa retórica, embora polêmica, ecoa o sentimento de setores da população que percebem a imigração como uma ameaça à coesão social e aos valores tradicionais holandeses. Dados do Statistics Netherlands mostram que, em 2023, cerca de 21% da população holandesa era composta por imigrantes ou seus descendentes, muitos provenientes do norte da África e do Oriente Médio, um aumento significativo nas últimas décadas. Esse contexto demográfico, aliado a incidentes de criminalidade e tensões culturais, reforça o apelo de Wilders entre eleitores que buscam uma abordagem mais assertiva para proteger a identidade nacional.
A crise política atual não é um evento isolado. A questão migratória já havia derrubado o governo anterior, liderado por Mark Rutte, em julho de 2023, evidenciando a dificuldade de alcançar consenso em um país com um sistema político fragmentado. A saída do PVV, que detinha a maior bancada da coalizão, deixou o governo sem maioria, forçando Schoof a renunciar e entregar sua demissão ao rei Willem-Alexander. Os partidos remanescentes podem tentar formar uma coalizão minoritária, mas analistas consideram mais provável a convocação de novas eleições, possivelmente entre outubro e novembro de 2025. Pesquisas recentes indicam que o PVV mantém uma base sólida, com cerca de 20% das intenções de voto, embora enfrente competição crescente de partidos como a aliança Trabalhista/Verde e o VVD. A decisão de Wilders, classificada como “irresponsável” por aliados como Dilan Yesilgoz, líder do VVD, foi defendida por ele como uma necessidade de cumprir as promessas feitas aos eleitores, que exigem ações concretas para conter o “tsunami de imigração”.
O colapso do governo ocorre em um momento delicado para a Holanda, que se prepara para sediar uma cúpula da OTAN em junho de 2025. A instabilidade política pode atrasar decisões sobre aumento de gastos com defesa e apoio à Ucrânia, além de enfraquecer a posição do país na União Europeia. No entanto, para Wilders, a prioridade é clara: restaurar o controle das fronteiras e proteger a identidade holandesa. Sua estratégia de abandonar a coalizão parece calculada para capitalizar o apoio popular em uma nova eleição, que ele espera transformar em um referendo sobre a imigração. “Propus um plano para fechar as fronteiras e expulsar requerentes de asilo. Meus parceiros não concordaram, então não me deixaram outra escolha”, declarou Wilders, reforçando sua determinação em liderar um governo que coloque os interesses dos holandeses acima de tudo.