Em janeiro de 2025, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou um plano ousado para encomendar cerca de 40 quebra-gelos para a Guarda Costeira americana, destacando a necessidade de reforçar a presença dos EUA no Ártico e na Antártida. Durante um discurso na Carolina do Norte, Trump comparou a frota atual dos EUA, que conta com apenas dois quebra-gelos polares operacionais – o USCGC Polar Star, de 1976, e o USCGC Healy, que sofreu incêndios recentes – com a da Rússia, que possui mais de 40 embarcações, incluindo modelos de propulsão nuclear. A iniciativa, que inclui um investimento de US$ 8,6 bilhões aprovado em sua lei de gastos e tributos, visa contrabalançar a crescente influência de Rússia e China em regiões polares estratégicas, onde o derretimento do gelo abre novas rotas de navegação e acesso a recursos naturais.
A proposta de Trump reflete uma visão estratégica para fortalecer a soberania americana no Ártico, uma região que o Pentágono considera crítica devido à rivalidade com potências como Rússia, que controla 53% da costa ártica, e China, que expandiu sua presença com cinco quebra-gelos e operações conjuntas com os russos. O financiamento destina US$ 4,3 bilhões para até três novos Polar Security Cutters (quebra-gelos pesados), US$ 3,5 bilhões para quebra-gelos médios da classe Arctic Security Cutter e US$ 816 milhões para embarcações leves e médias adicionais. A Guarda Costeira, que opera atualmente apenas três quebra-gelos polares, incluindo o recém-adquirido USCGC Storis, vê na iniciativa uma oportunidade para modernizar sua frota envelhecida e atender às demandas de segurança nacional, como patrulhamento, resgate e apoio à navegação comercial em águas geladas.
A medida também responde a preocupações econômicas e de segurança. O derretimento do gelo ártico, impulsionado pelas mudanças climáticas, abriu rotas como o Estreito de Bering, aumentando o tráfego marítimo e a competição por recursos como petróleo, gás e minerais. Trump destacou que os novos quebra-gelos garantirão acesso a essas rotas, apoiando empresas americanas e mantendo linhas de suprimento abertas. Além disso, a iniciativa promove a revitalização da indústria naval dos EUA, com estaleiros como Bollinger Shipyards, em Mississippi, e parcerias como a United Shipbuilding Alliance, formada por Bollinger e Edison Chouest, prontos para construir as embarcações. A aquisição do Storis, um quebra-gelo comercial adaptado, já marca um passo inicial para reforçar a frota enquanto os novos navios, com entrega prevista a partir de 2028, são construídos.
Embora a meta de 40 quebra-gelos tenha sido considerada ambiciosa por especialistas – a Guarda Costeira estima a necessidade de apenas oito ou nove embarcações polares de grande porte –, o vice-almirante Thomas Allan, da Guarda Costeira, expressou entusiasmo com o apoio presidencial, destacando que a inclusão de embarcações menores pode justificar o número. A proposta também explora inovações, como a possibilidade de quebra-gelos de propulsão nuclear, uma tecnologia dominada pela Rússia, conforme indicado em um memorando de Trump em 2025. A colaboração com o ICE Pact, firmado em 2024 com Canadá e Finlândia, pode acelerar a produção, embora tensões com Ottawa e atrasos no programa Polar Security Cutter, que enfrenta sobrecustos de US$ 1 bilhão, sejam desafios a superar.
A iniciativa de Trump reforça a liderança dos EUA em um momento crítico, garantindo que o país não fique atrás em uma região de crescente importância geopolítica. A expansão da frota de quebra-gelos é vista como um passo para proteger os interesses nacionais, promover a segurança econômica e assegurar a presença americana em águas polares, onde a competição por influência e recursos se intensifica.