Em 24 de junho de 2025, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou que a China está autorizada a continuar comprando petróleo do Irã, uma decisão que surpreendeu analistas e autoridades globais. A declaração, feita por meio de sua plataforma Truth Social, veio horas após a confirmação de um cessar-fogo entre Irã e Israel, mediado pelos EUA após semanas de tensões no Oriente Médio. Trump destacou sua esperança de que a China também aumente suas compras de petróleo americano, afirmando: “A China agora pode continuar a comprar petróleo do Irã. Espero que eles também estejam comprando muito dos EUA. Foi uma grande honra fazer isso acontecer!”
A decisão marca uma mudança em relação à política de “pressão máxima” adotada por Trump no início de 2025, que visava reduzir as exportações de petróleo iranianas a zero para conter o programa nuclear de Teerã. Em maio, Trump havia ameaçado sanções secundárias a qualquer país ou empresa que comprasse petróleo iraniano, com foco especial na China, que importa cerca de 1,6 milhão de barris por dia do Irã, representando quase 90% das exportações de petróleo do país, segundo dados da Administração de Informação de Energia dos EUA de 2023. A China, que não reconhece as sanções americanas, utiliza uma rede de navios “fantasmas” e intermediários para adquirir o petróleo iraniano com descontos significativos, gerando entre 30 e 40 bilhões de dólares anuais para Teerã.
O anúncio de Trump ocorre em um contexto de negociações nucleares com o Irã, que foram adiadas em maio por “razões logísticas”, conforme informado pelo Ministério das Relações Exteriores do Omã, mediador das conversas. A Casa Branca esclareceu que as sanções contra o Irã não foram formalmente suspensas, mas analistas, como Scott Modell, da Rapidan Energy, interpretam a declaração como um sinal de enforcement mais brando, possivelmente para evitar uma escalada de tensões com a China em meio à guerra comercial. “A ameaça de sanções perdeu força após as tarifas impostas à China, que reduziram o receio de Pequim com penalidades financeiras”, explicou Modell.
A decisão também reflete preocupações com os preços globais do petróleo. Após o ataque iraniano à base americana de Al-Udeid, no Qatar, em 23 de junho, que não resultou em vítimas, Trump exigiu que os preços do petróleo fossem mantidos baixos, alertando que altas poderiam “jogar nas mãos do inimigo”. O cessar-fogo entre Irã e Israel, anunciado no mesmo dia, reduziu temores de interrupções no Estreito de Ormuz, por onde passa 20% do petróleo mundial. Como resultado, os preços do petróleo caíram 6%, com o barril de Brent fechando a 67,14 dólares e o WTI a 64,37 dólares, segundo a CNBC.
Críticos da decisão, como o ex-embaixador americano na Arábia Saudita, Robert Jordan, questionaram a lógica de Trump, argumentando que a liberação do petróleo iraniano não garante que a China comprará mais dos EUA, já que apenas 2% das importações chinesas de petróleo vêm dos Estados Unidos, contra 13,6% do Irã. A Arábia Saudita, maior exportadora de petróleo, expressou preocupação com a medida, temendo impactos em sua fatia de mercado. Enquanto isso, o governo chinês, por meio do porta-voz Guo Jiakun, reiterou que tomará medidas de segurança energética baseadas em seus interesses nacionais, rejeitando sanções unilaterais dos EUA.
A declaração de Trump parece equilibrar interesses econômicos e diplomáticos, mantendo a estabilidade no mercado de energia enquanto sinaliza uma abertura para negociações com o Irã e a China. Para observadores atentos, a ênfase na exportação de petróleo americano reflete uma visão pragmática, priorizando a economia doméstica e a influência dos EUA no comércio global, sem abrir mão de valores como a soberania e a segurança energética.