O Banco Central do Brasil anunciou, em 18 de junho de 2025, a elevação da taxa Selic em 0,25 ponto percentual, alcançando 15% ao ano, o maior patamar desde julho de 2006, quando a taxa estava em 15,25%. A decisão, tomada por unanimidade pelo Comitê de Política Monetária (Copom), liderado por Gabriel Galípolo, marca a sétima alta consecutiva desde setembro de 2024, totalizando um aumento de 4,5 pontos percentuais. Embora o Copom sinalize uma possível pausa no ciclo de altas, a manutenção de juros elevados por um “período bastante prolongado” levanta preocupações sobre o impacto na economia, especialmente para famílias e empresas que enfrentam crédito mais caro e crescimento econômico ameaçado.
A justificativa do Banco Central para o aumento da Selic é o combate à inflação persistente, que permanece acima da meta de 3% estabelecida para 2026. Segundo o Boletim Focus, do próprio BC, a projeção do IPCA para 2026 é de 4,5%, no limite superior da meta, enquanto a inflação acumulada em 2024 já ultrapassa 5,25%. O Copom destacou a resiliência da economia, com mercado de trabalho aquecido e pressões inflacionárias em serviços, como fatores que dificultam a convergência da inflação para a meta. A ata da reunião, publicada em 24 de junho, reforçou um tom cauteloso, indicando que a taxa de 15% será mantida por tempo prolongado para avaliar os impactos do aperto monetário, sem descartar novos ajustes caso o cenário piore.
A alta da Selic tem consequências diretas para os brasileiros. O custo do crédito, como financiamentos e empréstimos, fica mais elevado, desencorajando consumo e investimentos. A Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) criticou a decisão, chamando-a de “inaceitável” para o setor produtivo, que enfrenta dificuldades de acesso a capital em um contexto de desigualdades regionais. “O setor produtivo não pode continuar sendo o fiador do ajuste econômico”, afirmou a Fiec, destacando que o Brasil agora tem o segundo maior juro real do mundo, atrás apenas da Turquia, segundo o O Globo. Para as famílias, o impacto será sentido com força no segundo semestre, com aumento nas prestações de dívidas e redução do poder de compra, conforme alertou o economista-chefe do Banco Inter.
No mercado financeiro, a reação foi mista. O Ibovespa caiu, pressionado por ações de empresas sensíveis aos juros, como Magazine Luiza (-5,35%) e bancos, enquanto a curva de juros mostrou ajustes, com analistas prevendo a Selic estacionada em 15% até o fim de 2025, segundo a Broadcast. A valorização do real frente ao dólar, observada recentemente, pode ser um efeito colateral positivo, mas insuficiente para contrabalançar os desafios domésticos. O ex-presidente do BC, Roberto Campos Neto, defendeu a alta como necessária para recuperar credibilidade e conter expectativas inflacionárias desancoradas, mas analistas alertam que a política monetária contracionista pode frear a economia, que já mostra sinais de desaceleração.
Enquanto a renda fixa, como CDBs e Tesouro Selic, ganha atratividade com retornos próximos a 15% ao ano, a poupança continua rendendo menos que a inflação, com retorno real de apenas 2,14%, segundo a Istoé Dinheiro. Investidores são incentivados a buscar alternativas como LCIs e LCAs, isentas de Imposto de Renda, mas com menor liquidez. No entanto, a alta da Selic penaliza setores dependentes de crédito, como indústria e varejo, e pode agravar o desemprego, que, embora baixo, enfrenta pressões em um mercado de trabalho menos dinâmico.
A decisão do Copom, embora vise estabilizar a inflação, impõe um custo elevado à economia. A combinação de juros altos, inflação persistente e incertezas globais, como a escalada do conflito no Oriente Médio, cria um cenário preocupante. A promessa de uma pausa nas altas traz alívio parcial, mas a manutenção prolongada da Selic em 15% sinaliza tempos difíceis para consumidores e empresas, que enfrentam um ambiente de crédito restritivo e crescimento econômico ameaçado.