No dia 4 de março de 2025, o padre Sylvester Okechukwu, da Diocese de Kafanchan, foi sequestrado de sua residência na igreja de Santa Maria, em Tachira, localizada na área de governo local de Kaura, no estado de Kaduna, região conhecida como Middle Belt da Nigéria. O crime ocorreu por volta das 21h15, segundo informações oficiais da diocese. Menos de 24 horas depois, na manhã de 5 de março — data que marcou a Quarta de Cinzas, início da Quaresma para os cristãos —, seu corpo foi encontrado sem vida, vítima de um assassinato brutal. Até o momento, as autoridades não identificaram os responsáveis pelo ataque, e o motivo do crime permanece desconhecido.
O padre Sylvester, ordenado em 11 de fevereiro de 2021, era reconhecido por seu trabalho dedicado na comunidade, onde promovia mensagens de paz e esperança em uma região marcada por tensões religiosas e étnicas. O Middle Belt nigeriano, que inclui o estado de Kaduna, é uma zona de transição entre o norte predominantemente muçulmano e o sul majoritariamente cristão, frequentemente palco de conflitos entre agricultores cristãos e pastores Fulani, muitos dos quais são muçulmanos. Dados da organização Open Doors indicam que, em 2024, mais de 3.100 cristãos foram mortos no país, com a Nigéria liderando a lista global de assassinatos por motivos religiosos. O caso de Sylvester é apenas o mais recente em uma série de ataques contra clérigos católicos: em 2024, 13 sacerdotes foram sequestrados, e a tendência continuou em 2025 com pelo menos sete casos registrados até março.
A Diocese de Kafanchan expressou profundo pesar pelo ocorrido, destacando o impacto da perda de um sacerdote que servia com devoção. O chanceler da diocese, padre Jacob Shanet, descreveu Sylvester como um “servo incansável de Deus”, cuja morte deixou um vazio irreparável entre os fiéis. Autoridades locais, incluindo a polícia do estado de Kaduna, iniciaram uma investigação, mas a ausência de pistas concretas reflete um padrão de impunidade que agrava a sensação de insegurança entre as comunidades cristãs. Apenas um dia antes, em 3 de março, outro ataque na Diocese de Auchi, no estado de Edo, resultou no sequestro de um padre e um seminarista, evidenciando a escalada da violência.
A situação no Middle Belt é agravada pela ação de grupos armados, incluindo militantes Fulani e extremistas como o Boko Haram, que operam com relativa liberdade em áreas rurais. Líderes cristãos, como o bispo Julius Yakubu Kundi, de Kafanchan, têm denunciado a negligência do governo em conter esses ataques, que muitas vezes visam igrejas, sacerdotes e aldeias cristãs. A morte de Sylvester na Quarta de Cinzas, um dia simbólico de reflexão e penitência, intensifica o clamor por medidas que restaurem a segurança e protejam a liberdade religiosa em uma região onde a fé é, para muitos, um ato de resistência.
