Em 30 de abril de 2025, os Estados Unidos e a Ucrânia assinaram um acordo econômico histórico, após meses de negociações tensas, que concede a Washington acesso preferencial aos recursos minerais e naturais de Kiev, incluindo terras raras, lítio, titânio e hidrocarbonetos, como petróleo e gás. O acordo, assinado pelo secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, e pela vice-primeira-ministra ucraniana, Yulia Svyrydenko, em Washington, estabelece o Fundo de Investimento para Reconstrução EUA-Ucrânia, projetado para financiar a recuperação econômica do país devastado pela guerra e atrair investimentos globais. A assinatura, anunciada por fontes como CNBC e The New York Times, ocorreu após um encontro entre o presidente Donald Trump e o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy no funeral do Papa Francisco, em 26 de abril, no Vaticano, onde os líderes superaram atritos anteriores.
O acordo, que ainda precisa ser ratificado pelo parlamento ucraniano (Rada), estabelece uma parceria igualitária, com contribuições de 50% de ambos os lados e gestão conjunta do fundo, garantindo que nenhum dos parceiros tenha controle dominante. A Ucrânia mantém a propriedade total de seus recursos e decide o que e onde extrair, conforme destacado por Svyrydenko em postagens no X. Os lucros do fundo, provenientes de novos projetos de mineração, petróleo e gás, serão reinvestidos na Ucrânia pelos primeiros 10 anos, sem distribuição de dividendos, para impulsionar a reconstrução e o desenvolvimento de infraestrutura. Os EUA contribuirão com fundos diretos e equipamentos, incluindo sistemas de defesa aérea, que contarão como parte de sua participação no fundo, mas o acordo não inclui obrigações de dívida para Kiev relacionadas a ajuda militar passada, um ponto crucial defendido pela Ucrânia.
A Ucrânia possui reservas significativas, incluindo 5% do fornecimento global de minerais críticos, 7% da produção mundial de titânio e uma das maiores reservas de lítio da Europa, estimada em 500 mil toneladas, segundo o Ministério da Economia ucraniano. Esses recursos, amplamente inexplorados devido à guerra e à falta de mapeamento geológico, são essenciais para tecnologias de energia renovável, defesa e eletrônicos, áreas onde os EUA buscam reduzir a dependência da China, que domina 90% do mercado de terras raras.
O acordo, longamente almejado por Trump, reflete sua abordagem transacional, que via a exploração de recursos ucranianos como uma forma de compensar os cerca de US$ 120 bilhões em ajuda militar fornecida pelos EUA desde o início da invasão russa em 2022, embora Trump tenha exagerado esse valor para US$ 350 bilhões em declarações públicas. Versões iniciais do acordo, rejeitadas por Zelenskyy, exigiam que a Ucrânia cedesse US$ 500 bilhões em lucros como pagamento retroativo, o que o líder ucraniano considerou “vender o país”. Um confronto no Salão Oval em 28 de fevereiro de 2025, entre Trump, o vice-presidente JD Vance e Zelenskyy, quase descarrilou as negociações, com Trump suspendendo temporariamente a ajuda a Kiev. No entanto, a reunião no Vaticano ajudou a restabelecer o diálogo, resultando em termos mais favoráveis à Ucrânia.
Trump, em entrevista ao NewsNation, descreveu o acordo como uma proteção para os investimentos americanos, afirmando que “a Rússia é muito maior e mais forte”, mas que a presença econômica dos EUA na Ucrânia poderia deter agressões futuras. Ele também destacou o potencial de retorno financeiro, dizendo que o acordo poderia render “muito mais” do que a ajuda fornecida. Bessent reforçou que o acordo sinaliza à Rússia o compromisso de longo prazo dos EUA com uma Ucrânia “livre, soberana e próspera”, excluindo qualquer benefício para estados ou indivíduos que apoiaram a máquina de guerra russa.
Na Ucrânia, o acordo foi recebido com otimismo cauteloso. Svyrydenko celebrou a parceria como um sinal de confiabilidade para investidores globais, enquanto o primeiro-ministro Denys Shmyhal destacou que o fundo não impõe dívidas retroativas, reforçando a soberania ucraniana. No entanto, críticos, como o economista Volodymyr Landa, do Centre for Economic Strategy, alertaram que a viabilidade depende da paz duradoura e de investimentos privados, que enfrentam barreiras como infraestrutura danificada e riscos de segurança. A ratificação pelo parlamento ucraniano, prevista para meados de maio, pode enfrentar resistência devido à percepção de que o acordo foi assinado sob pressão, conforme sugerido pelo analista Ed Verona, do Atlantic Council.
Na Rússia, o ex-presidente Dmitry Medvedev classificou o acordo como uma derrota para Kiev, afirmando que Trump “forçou a Ucrânia a pagar pela ajuda americana com seus recursos naturais”. Apesar disso, o Kremlin não respondeu oficialmente, e o impacto do acordo na guerra permanece incerto, especialmente porque não inclui garantias explícitas de segurança, uma demanda de longa data de Zelenskyy.
Internacionalmente, o acordo foi bem recebido por aliados como o Reino Unido, com o secretário de Relações Exteriores David Lammy expressando apoio no X. Analistas do Atlantic Council veem o acordo como um fortalecimento da posição da Ucrânia, dando a Trump um interesse concreto na estabilidade do país, enquanto reduz a dependência americana de minerais chineses. No entanto, desafios como a necessidade de mapeamento geológico e a reconstrução de 50% da infraestrutura energética ucraniana, danificada pela guerra, podem atrasar os benefícios econômicos por até 20 anos.
O acordo representa um marco na relação EUA-Ucrânia, alinhando interesses econômicos e estratégicos, mas sua implementação dependerá da estabilidade política, da ratificação parlamentar e da capacidade de atrair investimentos privados em meio a um conflito ainda ativo.