Entre 2015 e 2025, o Reino Unido testemunhou o fechamento de mais de 3.500 igrejas, um reflexo de mudanças culturais, demográficas e financeiras que afetam as instituições religiosas tradicionais. Relatórios da National Churches Trust, uma organização dedicada à preservação do patrimônio eclesiástico, apontam que esse número abrange diversas denominações cristãs, com muitas construções sendo abandonadas, vendidas ou repurpostas para usos alternativos. Entre os exemplos mais notáveis estão a Clayton Heights Methodist Church, em Bradford, e a St. Thomas’ United Reformed Church, em Watford, ambas convertidas em mesquitas, evidenciando uma tendência que, embora minoritária, desperta intensas discussões.
A Clayton Heights Methodist Church, construída em 1870 em Bradford, West Yorkshire, encerrou suas atividades em 2020. Inicialmente, havia planos para transformá-la em residências, mas a comunidade muçulmana local adquiriu o prédio em 2023, convertendo-o em uma mesquita sem necessidade de permissão específica de planejamento, já que o uso como local de culto foi mantido. A vereadora Hazel Johnson, representante da região de Queensbury, destacou a iniciativa como positiva para atender às necessidades da crescente população muçulmana, que em Bradford representa cerca de 24,7% dos habitantes, conforme o censo de 2021 do Office for National Statistics (ONS). Apesar do apoio local, preocupações com estacionamento e tráfego surgiram entre os moradores.
Já a St. Thomas’ United Reformed Church, em Watford, Hertfordshire, fechada em 2015 devido a problemas estruturais, seguiu um caminho semelhante. Após anos de abandono e tentativas frustradas de demolição e reconstrução, a Ar-Rahmah Trust, uma organização islâmica, comprou o edifício em dezembro de 2024 por 3,5 milhões de libras. A meta é transformá-lo no Masjid Al-Ummah, um espaço multifuncional com ginásio, creche e banco de alimentos, atendendo a uma comunidade muçulmana local que cresceu para cerca de 15 mil pessoas. A organização lançou uma campanha de arrecadação para levantar 1,5 milhão de libras adicionais para reformas, planejando a abertura em 2026.
O fechamento em massa de igrejas no Reino Unido é atribuído a fatores como a queda na frequência religiosa – o censo de 2021 mostrou que apenas 46,2% da população da Inglaterra e do País de Gales se identifica como cristã, uma queda de 13 pontos percentuais em uma década – e os altos custos de manutenção de edifícios históricos. A Igreja da Inglaterra, por exemplo, fecha cerca de 20 a 25 templos por ano, segundo seus próprios dados, enquanto a Igreja da Escócia planeja encerrar até 40% de suas paróquias. Muitas dessas estruturas, algumas com status de patrimônio listado, são vendidas para usos residenciais, comerciais ou comunitários. A conversão em mesquitas, porém, é rara: embora mais de 1.800 mesquitas existam no Reino Unido, segundo estimativas do Muslims in Britain, a maioria é construída do zero ou adaptada de edifícios não religiosos.
Casos como os de Bradford e Watford destacam uma mudança no cenário religioso britânico, onde o islamismo, professado por 6,5% da população em 2021 (um aumento de 1,6 milhão de pessoas desde 2011), ganha visibilidade em áreas urbanas. Em cidades como Bradford, Birmingham e Londres, a presença muçulmana é significativa, contrastando com o declínio das congregações cristãs tradicionais. Ainda assim, a narrativa de uma substituição direta de igrejas por mesquitas é exagerada: das milhares de igrejas fechadas, apenas uma fração – menos de 1%, segundo análises independentes – foi convertida para uso islâmico.