El Salvador alcançou uma marca notável: 864 dias sem homicídios registrados, sendo 751 desses durante o estado de emergência implementado pelo presidente Nayib Bukele. Desde o início dessa medida, em março de 2022, mais de 86 mil indivíduos suspeitos de integrarem gangues foram detidos, transformando a realidade de um país que, por décadas, foi conhecido como um dos mais violentos do mundo. A estratégia, centrada em uma postura rígida contra o crime, tem gerado resultados impressionantes, mas também levanta questões sobre seus custos e sustentabilidade.
O estado de emergência foi declarado após uma onda de violência que deixou 87 mortos em um único fim de semana, atribuída às gangues Mara Salvatrucha (MS-13) e Barrio 18. Com a suspensão de direitos constitucionais, como o acesso imediato a advogados e a exigência de mandados para prisões, as forças de segurança ganharam amplos poderes para agir. Dados oficiais apontam que, em 2023, o país fechou o ano com apenas 214 homicídios, uma queda drástica em relação aos 6.650 registrados em 2015, quando a taxa chegou a 103 por 100 mil habitantes. Hoje, a nação ostenta uma das menores taxas de homicídio da América Latina, com 2,4 por 100 mil pessoas, segundo o Ministério da Justiça e Segurança Pública salvadorenho.
A ofensiva de Bukele focou em desmantelar as estruturas das gangues, que por anos controlaram territórios, extorquiram cidadãos e alimentaram a criminalidade. A construção do Centro de Confinamento do Terrorismo (CECOT), uma mega-prisão com capacidade para 40 mil detentos, simboliza essa abordagem inflexível. Relatos de moradores indicam uma mudança palpável: ruas antes dominadas pelo medo agora voltam a ser frequentadas por famílias, e o comércio local respira aliviado sem a pressão das extorsões. Em cidades como San Salvador e Soyapango, a presença ostensiva de policiais e militares substituiu a influência dos criminosos.
A política de tolerância zero, embora eficaz em números, reflete um equilíbrio delicado entre segurança e liberdade, com a população em grande parte apoiando Bukele – sua aprovação supera os 85%, conforme pesquisas locais.
A experiência de El Salvador destaca um modelo que, para muitos, é um exemplo de como enfrentar a violência endêmica. Países vizinhos, como Honduras e Equador, já ensaiam medidas semelhantes, inspirados pela redução da criminalidade. Os dados mostram que, antes da ofensiva, as gangues contavam com cerca de 80 mil membros ativos; hoje, esse número foi significativamente reduzido, seja por prisões ou por fugas para áreas rurais.