A partir de 1º de fevereiro de 2025, a Diocese de Como, localizada no norte da Itália, deu um passo inédito ao implementar um serviço telefônico voltado para conectar fiéis a auxiliares do exorcista diocesano. Batizado de iniciativa da Équipe San Michele, o projeto surge como resposta a um aumento significativo na procura por suporte espiritual, refletindo uma tendência observada em diversas regiões da Itália nos últimos anos. O número 0039 031.3312.224 foi disponibilizado para que os fiéis possam deixar mensagens, com a promessa de retorno em até 48 horas, oferecendo uma estrutura organizada para lidar com casos de possível influência espiritual negativa.
O serviço opera de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h, e é gerenciado por uma equipe multidisciplinar que inclui sacerdotes, médicos e psicólogos. Essa abordagem integrada visa avaliar cuidadosamente cada situação, distinguindo entre problemas de origem psicológica, emocional ou espiritual. Estimativas indicam que apenas cerca de 5% dos casos relatados evoluem para processos que podem envolver exorcismo, um procedimento que exige discernimento rigoroso e autorização diocesana. O padre responsável pela iniciativa destacou a importância de oferecer um canal acessível, já que muitos fiéis enfrentavam dificuldades para encontrar sacerdotes capacitados para orientá-los em momentos de aflição.
A decisão da Diocese de Como reflete um fenômeno mais amplo na Igreja Católica italiana. Na vizinha Arquidiocese de Milão, por exemplo, o número de exorcistas dobrou desde 2012, passando de seis para doze, em resposta à crescente quantidade de relatos de opressões espirituais. Embora dados específicos sobre Como não tenham sido divulgados, a criação do serviço telefônico sugere que a diocese identificou uma necessidade semelhante. Autoridades eclesiásticas apontam que o aumento na demanda pode estar relacionado a uma percepção de afastamento dos valores tradicionais, o que, para alguns, abre espaço para vulnerabilidades espirituais.
A iniciativa, porém, não é isenta de controvérsias. Enquanto a diocese defende que o serviço une fé e análise profissional para atender às angústias dos fiéis, críticos questionam sua relevância em um mundo onde a ciência oferece explicações para muitos dos sintomas relatados. Ainda assim, a Igreja mantém que o objetivo não é substituir a medicina ou a psicologia, mas complementá-las, oferecendo uma resposta pastoral àqueles que buscam ajuda dentro de sua crença. O foco em um atendimento estruturado e discreto reforça a postura tradicional da instituição, que valoriza a prudência e a responsabilidade no trato dessas questões delicadas.
A experiência de Como pode servir de modelo para outras dioceses italianas que enfrentam desafios semelhantes. Com uma equipe preparada e um sistema que prioriza o discernimento, a diocese busca equilibrar a demanda contemporânea por apoio espiritual com a sobriedade que a prática exige, mantendo viva uma tradição antiga em um contexto moderno.