Em um contexto de crescentes tensões comerciais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) intensificou suas críticas ao domínio do dólar e à influência dos Estados Unidos, defendendo a desdolarização como uma estratégia para fortalecer a soberania econômica do Brasil e dos países do BRICS. Essa postura, expressa em eventos como a cúpula do BRICS no Rio de Janeiro em 2025, veio em resposta às tarifas de 50% impostas pelo presidente americano Donald Trump sobre 36% das exportações brasileiras, que entraram em vigor em 6 de agosto de 2025. Trump justificou a medida como uma reação a práticas comerciais supostamente desleais e à perseguição política contra Jair Bolsonaro, aliado ideológico do líder americano. A insistência de Lula em desafiar o dólar, ignorando alertas de retaliações econômicas, pode agravar a crise comercial com Washington, trazendo sérias consequências para a economia brasileira.
As tarifas americanas afetam diretamente setores estratégicos como café, carne bovina, frutas, têxteis e calçados, que representam US$ 14,5 bilhões das exportações brasileiras para os EUA, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). Em 2024, os EUA importaram US$ 40,4 bilhões do Brasil, equivalente a 12% do total exportado pelo país. A sobretaxa de 50% encarece esses produtos no mercado americano, reduzindo sua competitividade e ameaçando a receita de exportação. A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) estima uma perda de até US$ 1 bilhão em carne bovina, enquanto o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) prevê aumento nos preços do café, que representa 4,7% das exportações para os EUA. A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) projeta uma redução de R$ 25,8 bilhões no PIB brasileiro no curto prazo, com uma possível queda de 0,4 ponto percentual no crescimento econômico, segundo o Goldman Sachs.
A retórica de Lula, que classificou as tarifas como uma tentativa de “tutela” americana e defendeu a independência econômica sem diálogo direto com Trump, é vista como um erro estratégico por analistas. Enquanto cerca de 700 produtos, como aviões da Embraer, suco de laranja, petróleo e minério de ferro, foram isentos da sobretaxa, a exclusão de setores como o agronegócio, que responde por 16,7% do volume de carne bovina exportada, intensifica a pressão sobre produtores brasileiros. A desvalorização do real, que atingiu R$ 5,50 por dólar após o anúncio das tarifas, reflete a incerteza no mercado, com o Ibovespa registrando queda de 1,31%. Essa volatilidade pode elevar a inflação, já que importações mais caras tendem a impactar os preços internos, afetando o consumidor final.
Além disso, a proposta americana “Sanctioning Russia Act”, em tramitação no Congresso dos EUA, ameaça impor tarifas de até 500% a países que comprem energia russa, como diesel e fertilizantes, dos quais o Brasil é um importador significativo. A continuidade dessas compras, defendida por Lula para manter laços com os BRICS, pode expor o Brasil a sanções adicionais, comprometendo ainda mais o comércio com os EUA. Especialistas, como Ecio Costa, da Universidade Federal de Pernambuco, alertam que a falta de negociações diretas com Washington pode desacelerar a economia brasileira, com efeitos em cadeia sobre empregos e investimentos. A postura de Lula, que evita o diálogo em favor de críticas públicas, contrasta com a habilidade de Trump em usar pressões econômicas para alcançar objetivos geopolíticos, como demonstrado em acordos com Japão e Canadá.
A insistência de Lula em desafiar o dólar, sem um plano robusto para contrabalançar as retaliações de Trump, pode custar caro ao Brasil, enquanto a abordagem assertiva de Trump reforça a influência americana no comércio global.