Na manhã de 22 de julho de 2025, a Justiça do Rio de Janeiro decretou a prisão preventiva do rapper Mauro Davi dos Santos Nepomuceno, conhecido como Oruam, após um confronto com policiais no bairro do Joá, Zona Oeste da cidade. A decisão foi motivada por uma operação da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) que buscava cumprir um mandado de busca e apreensão contra um adolescente de 17 anos, identificado como “Menor Piu”, suspeito de roubo de veículos e ligado a Edgar Alves de Andrade, conhecido como Doca, líder do Comando Vermelho no Complexo da Penha. Segundo a Polícia Civil, Oruam e um grupo de pessoas teriam atacado os agentes com pedras e ofensas, resultando na fuga do adolescente e em danos a uma viatura policial. O caso, que culminou na detenção de outro envolvido, Pablo Ricardo de Paula Silva de Morais, reacendeu discussões sobre a relação entre artistas de origem periférica e o crime organizado, bem como sobre a conduta das operações policiais.
A operação ocorreu na noite de 21 de julho, quando agentes da DRE, em uma viatura descaracterizada, monitoravam a residência de Oruam, um imóvel de alto padrão no Joá. A polícia aguardava a saída do adolescente suspeito para abordá-lo, evitando entrar na casa durante a madrugada. Quando o jovem saiu acompanhado de outras pessoas, os policiais iniciaram a abordagem. Nesse momento, Oruam, da varanda de sua residência, teria incitado seguidores pelas redes sociais, pedindo ajuda com mensagens como “Quem tiver de moto, brota no Joá. Me ajuda, eles estão na minha porta”. O confronto escalou rapidamente: segundo a Polícia Civil, o rapper e outras oito pessoas arremessaram pedras e paralelepípedos contra os agentes, ferindo um policial e danificando uma viatura. No tumulto, o adolescente conseguiu escapar, frustrando a operação.Oruam, que fugiu para o Complexo da Penha após o incidente, publicou vídeos desafiando as autoridades e alegando abuso policial. “Mais de 20 viaturas na minha casa, sem identificação, apontando armas. Joguei pedras pra me defender, foi desespero”, afirmou.
Ele também destacou sua trajetória como artista, com milhões de ouvintes em plataformas digitais, negando envolvimento com o crime. A defesa do rapper argumenta que a operação foi desproporcional e carece de provas concretas, já que nenhum material ilícito foi encontrado na residência. No entanto, a juíza Ane Cristine Scheele Santos, do Plantão Judiciário do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), considerou a conduta do artista grave, justificando a prisão preventiva com base na necessidade de garantir a ordem pública e a continuidade das investigações. Oruam foi indiciado por sete crimes: tráfico de drogas, associação ao tráfico, resistência, desacato, dano, ameaça e lesão corporal leve, este último agravado por ter como vítima um agente público.
O rapper, filho de Márcio dos Santos Nepomuceno, conhecido como Marcinho VP, um dos líderes históricos do Comando Vermelho, já havia sido alvo de operações policiais. Em fevereiro de 2025, a residência de Oruam no Joá foi palco de outra ação, na qual foi encontrado Yuri Pereira Gonçalves, foragido da Justiça, portando uma pistola 9 mm. Apesar de liberado na ocasião, o histórico reforça a narrativa policial de que o imóvel seria um ponto de apoio para membros da facção. O secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, classificou Oruam como “criminoso faccionado” e destacou que o caso evidencia a ligação do rapper com o Comando Vermelho, uma afirmação que a defesa contesta, alegando perseguição e criminalização da cultura periférica.
O episódio gerou amplo debate público. De um lado, autoridades reforçam a necessidade de rigor contra ações que desafiem a lei e a segurança pública. De outro, ativistas e artistas questionam a seletividade nas operações policiais, apontando para um possível viés contra músicos de funk e rap, gêneros frequentemente associados às favelas. Projetos de lei em tramitação, apelidados de “Anti-Oruam”, buscam coibir letras que supostamente façam apologia ao crime, intensificando a discussão sobre liberdade artística e responsabilidade social. Oruam, que se entregou à polícia na tarde de 22 de julho, segue detido no Complexo Penitenciário de Bangu, enquanto sua defesa prepara recursos para contestar a prisão e as acusações.