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Neutralidade Brasileira no Conflito Rússia-Ucrânia Gera Crise Diplomática com Kyiv

A decisão da Ucrânia de retirar seu embaixador do Brasil, Andrii Melnyk, sem nomear um sucessor, anunciada em 7 de julho de 2025, marcou um ponto de inflexão nas relações entre os dois países. A medida, que deixa a embaixada ucraniana em Brasília sob a responsabilidade de um encarregado de negócios até pelo menos 2026, reflete a insatisfação de Kyiv com a postura do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no conflito Rússia-Ucrânia. A neutralidade brasileira, percebida por muitos como uma inclinação pró-Rússia, foi agravada pela visita de Lula a Moscou em maio de 2025, para participar das celebrações do 80º aniversário da vitória na Segunda Guerra Mundial, e pela recusa do Brasil em condenar ataques russos, como os bombardeios de mísseis em abril que mataram mais de 30 civis ucranianos. A abstenção do Brasil em votações da ONU, incluindo uma resolução de fevereiro de 2025 que pedia a retirada imediata das tropas russas, intensificou as tensões

Lula, que desde o início da guerra em fevereiro de 2022 tem defendido uma postura de não alinhamento, argumenta que o Brasil busca mediar a paz, propondo a criação de um “clube da paz” com nações como China e Índia. Durante sua visita a Moscou, conforme relatado pelo site oficial do governo brasileiro, ele reiterou a posição de que o Brasil é contra a ocupação territorial, mas insistiu que a solução depende de negociações entre Rússia e Ucrânia, rejeitando o envio de armas a Kyiv. Essa abordagem, no entanto, foi criticada pelo presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, que classificou a proposta conjunta Brasil-China como “destrutiva” por não exigir a retirada completa das forças russas, um ponto central do plano de paz de 10 pontos de Kyiv. A presença de Lula ao lado de Vladimir Putin, em um momento de isolamento internacional da Rússia, foi vista como um “ato hostil” por autoridades ucranianas, que ameaçaram rebaixar as relações bilaterais.

A neutralidade brasileira, embora enraizada em sua tradição diplomática de não intervenção, é vista por críticos como uma falha em reconhecer a gravidade das ações russas, que incluem violações de direitos humanos e crimes de guerra documentados pela ONU. A abstenção do Brasil em uma votação da ONU em dezembro de 2024, que condenava violações russas em territórios ocupados, foi interpretada como uma concessão a interesses econômicos, especialmente a dependência de fertilizantes russos, que representam cerca de 25% das importações brasileiras do setor, segundo dados de 2019. A visita de Lula a Moscou, acompanhada por acordos de cooperação em energia e tecnologia, reforçou a percepção de que o Brasil prioriza laços comerciais com a Rússia em detrimento de uma postura firme contra a agressão territorial.

Enquanto isso, a Ucrânia anunciou planos de abrir embaixadas em países latino-americanos como Equador, Panamá, República Dominicana e Uruguai até o final de 2025, sinalizando um esforço para fortalecer laços com nações que demonstrem maior alinhamento com sua causa. A decisão de Kyiv de reduzir sua representação diplomática no Brasil reflete uma estratégia de pressionar o governo Lula, cuja popularidade doméstica já enfrenta desafios devido a críticas de má gestão e alinhamento com regimes autoritários. A postura brasileira, que evita sanções contra a Rússia e rejeita pedidos de apoio militar à Ucrânia, contrasta com o apelo de Zelensky por solidariedade global contra a invasão russa, destacando uma desconexão entre os valores defendidos pelo Brasil e as expectativas da comunidade internacional.

A escolha de Lula de manter laços estreitos com Moscou, incluindo sua crítica às tarifas comerciais impostas pelos EUA e sua defesa de um multilateralismo que inclui a Rússia, levanta questionamentos sobre a coerência de sua política externa. Enquanto o Brasil busca um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, sua relutância em tomar partido contra a Rússia pode prejudicar sua credibilidade global. A crise diplomática com a Ucrânia expõe as limitações de uma neutralidade que, na prática, é percebida por muitos como um alinhamento tácito com interesses russos, em um momento em que a comunidade internacional exige clareza na defesa da soberania e dos direitos humanos.

Gustavo De Oliveira

Escritor

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