O governo de Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, ordenou a prisão de pelo menos oito economistas, analistas e cidadãos em junho de 2025, em uma ofensiva para silenciar vozes que expõem a grave deterioração econômica do país. A medida, que incluiu a detenção do ex-ministro das Finanças Rodrigo Cabezas, de 68 anos, na cidade de Maracaibo, visa coibir a publicação de dados independentes sobre inflação, desvalorização cambial e colapso econômico. A repressão tem gerado críticas de organizações de direitos humanos, que apontam a tentativa de ocultar a realidade de uma crise que já levou mais de 7,8 milhões de venezuelanos a deixar o país em busca de melhores condições de vida.
Entre os detidos, estão profissionais ligados ao Observatório Venezuelano de Finanças, que divulgou uma taxa de inflação anual de 229% em maio de 2025. O Banco Central da Venezuela, controlado por aliados de Maduro, parou de publicar dados oficiais de inflação em outubro de 2024, quando os preços começaram a disparar novamente. Segundo o economista José Guerra, exilado e diretor do observatório, o governo tenta “eliminar o mercado paralelo sem fornecer dólares suficientes, o que é impossível”. Ele destacou que a impressão desenfreada de dinheiro, com um aumento de 250% na liquidez monetária até maio, alimenta a hiperinflação, agravando a crise. As detenções, segundo fontes anônimas próximas aos casos, ocorreram sem mandados judiciais, e alguns presos permanecem sob custódia do Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (Sebin), sem acesso a advogados ou contato com familiares.
A repressão também atingiu plataformas digitais como o Monitor Dólar, que publicava cotações não oficiais do dólar, essenciais para empresas e cidadãos em um país marcado pela instabilidade cambial. Em abril de 2025, Maduro declarou um “estado de emergência econômica”, concedendo a si mesmo poderes para suspender impostos, centralizar a arrecadação e forçar a compra de bens nacionais. A medida foi justificada como uma resposta às sanções dos Estados Unidos, que incluem tarifas de 25% sobre países que compram petróleo venezuelano e a suspensão da licença da Chevron para operar no país. O vice-presidente do Partido Socialista Unido da Venezuela, Diosdado Cabello, defendeu as prisões, classificando os economistas como “inimigos do povo” e acusando-os de “sabotagem econômica” em seu programa de TV semanal.
A crise econômica venezuelana, uma das piores da história moderna fora de contextos de guerra, é marcada por uma contração de mais de 60% do PIB desde 2013, segundo o Fundo Monetário Internacional. A hiperinflação, que atingiu 9.500% em 2019, continua a devastar o poder de compra, com o dólar no mercado paralelo alcançando 100 bolívares em março de 2025, contra 70 na taxa oficial. A dependência do petróleo, que representa a maior parte da receita do governo, foi agravada por má administração, corrupção na estatal PDVSA e sanções internacionais, que limitam o acesso a mercados globais. Apesar de uma breve recuperação econômica entre 2021 e 2023, com a dolarização parcial e maior abertura a investimentos, a retomada não chegou às comunidades mais pobres, e a infraestrutura do país, como o sistema elétrico, segue em colapso.
Organizações como a Human Rights Watch e a Anistia Internacional denunciam que as prisões fazem parte de uma estratégia mais ampla de repressão, que inclui detenções arbitrárias, desaparecimentos forçados e violência contra opositores. Desde 2014, mais de 15.800 pessoas foram presas por motivos políticos, com cerca de 270 ainda detidas em outubro de 2024. A ONU relatou que as condições em prisões venezuelanas são desumanas, com falta de água, alimentos e cuidados médicos. A retórica do governo, que atribui a crise às sanções ocidentais, ignora o impacto de políticas como controles de preços, nacionalizações e impressão de dinheiro sem lastro, implementadas desde o governo de Hugo Chávez.
A comunidade internacional, incluindo os Estados Unidos e a União Europeia, intensificou sanções após as eleições de julho de 2024, consideradas fraudulentas por observadores independentes. A oposição, liderada por figuras como Edmundo González, alega que venceu o pleito, mas a falta de transparência nos resultados e a repressão a protestos, que deixaram 24 mortos, dificultaram contestações. Enquanto Maduro mantém o apoio de aliados como China e Rússia, a perseguição a quem expõe a crise econômica reforça a imagem de um regime que prioriza o controle político sobre a recuperação do país.