O deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), acusou a Polícia Federal (PF) de distorcer fatos e induzir a Procuradoria-Geral da República (PGR) e a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) a erro em investigação sobre uma suposta tentativa de golpe de Estado em 2022. Em depoimento prestado ao STF em 9 de junho de 2025, Ramagem afirmou que uma mensagem enviada ao ex-presidente Jair Bolsonaro, interpretada pela PF como um ataque às urnas eletrônicas, era, na verdade, a transcrição literal de um vídeo de uma audiência pública no plenário do STF, disponível no YouTube. “Aparentemente, a PF induziu a erro a PGR e essa Primeira Turma do STF. Isso aqui é ipsis litteris um vídeo de uma audiência no pleno do STF”, declarou o deputado, segundo relatos da Gazeta do Povo e da Revista Oeste. A acusação reforça a narrativa de que as investigações contra Bolsonaro e seus aliados podem estar sendo conduzidas com base em interpretações equivocadas, levantando preocupações sobre a imparcialidade e a busca pela verdade em um processo que impacta a estabilidade das instituições democráticas.
Ramagem, que é réu na mesma ação penal que Bolsonaro por suposta tentativa de golpe, organização criminosa armada e abolição violenta do Estado Democrático de Direito, negou veementemente qualquer envolvimento em planos para subverter a ordem constitucional. Durante o interrogatório, conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, ele esclareceu que o texto em questão, apresentado pela PF como prova, era apenas uma transcrição de um vídeo de uma audiência pública no STF, que discutia a segurança do sistema eleitoral. “Eu avisei na hora à delegada que me inquiriu: esse é um vídeo que encaminhei ao presidente. Não é algo contra as urnas, mas uma exposição técnica”, afirmou Ramagem, conforme noticiado pela CNN Brasil. Ele criticou a omissão dessa informação no relatório da PF, sugerindo que a corporação manipulou o contexto para incriminar tanto ele quanto Bolsonaro. A defesa do deputado, liderada pelo advogado Paulo Renato Garcia Cintra Pinto, reforçou que os indícios contra Ramagem são “tímidos e singelos” e que não há provas concretas de sua participação em atos golpistas.
A denúncia da PGR, aceita pelo STF em 26 de março de 2025, acusa Ramagem de integrar o “núcleo crucial” de uma suposta organização criminosa que, sob a liderança de Bolsonaro, teria planejado anular as eleições de 2022 e impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Entre as evidências, a PF aponta mensagens e documentos encontrados no e-mail de Ramagem, incluindo um texto intitulado “Presidente.docx”, que sugeria uma postura de enfrentamento ao STF e questionava a lisura das urnas. Ramagem, no entanto, afirmou que tais anotações eram “privadas” e nunca enviadas a Bolsonaro, servindo apenas como reflexões pessoais para organizar ideias. “Eu escrevo em primeira pessoa como forma de concatenar pensamentos, mas isso não significa que passei essas informações ao presidente”, explicou, segundo o Estadão. Ele também negou ter usado a Abin para monitorar autoridades ou produzir desinformação, destacando que a agência, sob sua gestão, atuou dentro dos limites legais.
O depoimento de Ramagem ocorre no mesmo processo em que o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, afirmou que o ex-presidente apenas analisou, sem assinar, uma minuta de decreto que previa medidas inconstitucionais. A defesa de Bolsonaro, que também será ouvido esta semana, sustenta que as acusações carecem de provas concretas e que as discussões mencionadas nunca saíram do campo das ideias. A acusação de Ramagem contra a PF ganha relevância nesse contexto, sugerindo que erros ou manipulações nas investigações podem estar alimentando uma narrativa injusta contra o ex-presidente e seus aliados. A controvérsia também reacende debates sobre o equilíbrio entre os poderes, especialmente após a decisão da Câmara dos Deputados, em 7 de maio de 2025, de suspender parcialmente a ação penal contra Ramagem, uma medida que o STF derrubou por considerá-la inconstitucional em relação a réus não parlamentares, como Bolsonaro.
A condução do caso por Moraes, que acumula os papéis de vítima, investigador e juiz, tem sido alvo de críticas por parte de aliados de Bolsonaro, que apontam um possível conflito de interesses. Ramagem, em seu depoimento, destacou a necessidade de “resgatar a seriedade da investigação criminal” para evitar que distorções prejudiquem a justiça, conforme relatado pela Jornal da Cidade Online. O julgamento, que ocorre em um momento de alta tensão política, coloca em xeque a credibilidade das instituições e reforça a importância de processos transparentes para preservar a ordem democrática e a confiança da sociedade no Judiciário.