Um escândalo envolvendo a emissão de vistos para trabalhadores “qualificados” está sacudindo o Reino Unido, com açougues halal e lojas de kebab no centro da controvérsia. Uma investigação recente revelou que esses estabelecimentos, tradicionalmente associados a atividades de baixa qualificação, emitiram centenas de vistos sob o programa Skilled Worker Visa, levantando dúvidas sobre a integridade do sistema migratório britânico pós-Brexit. Um único açougue halal teria patrocinado impressionantes 918 funcionários, enquanto o país enfrenta 1,7 milhão de cidadãos desempregados, segundo dados do Office for National Statistics (ONS) de fevereiro de 2025.
A polêmica ganhou força após uma reportagem da GB News expor que 56 lojas de kebab e 83 negócios com “halal” no nome foram responsáveis por patrocinar esses vistos, transformando, da noite para o dia, fast-foods e açougues em “indústrias essenciais”. Críticos, incluindo vozes no X, questionam como tais setores passaram a ser elegíveis para um programa destinado a atrair profissionais altamente qualificados, como médicos e engenheiros. O sistema de pontos, implementado em 2021, exige oferta de emprego, fluência em inglês e um salário mínimo anual, mas parece ter sido flexibilizado para incluir ocupações que não se encaixam no perfil original.
O governo britânico, liderado pelo trabalhista Keir Starmer, enfrenta acusações de negligência enquanto tenta equilibrar a redução da migração líquida — promessa de campanha — com a demanda por mão de obra em setores como varejo e alimentação. Em 2024, o Home Office emitiu 45 mil vistos sazonais para o agronegócio, mas a inclusão de açougues e kebab shops no Skilled Worker Visa sugere uma brecha explorada por empregadores. Especialistas apontam que o salário mínimo exigido, ajustado para £38.700 em 2025, pode ser contornado por isenções ou ocupações listadas como “em escassez”, embora kebab shops dificilmente se qualifiquem.
A situação expõe um paradoxo: enquanto o desemprego britânico persiste, com 4,3% da força de trabalho sem ocupação (ONS, jan/2025), o país importa trabalhadores para funções que poderiam ser preenchidas localmente.