Uma influenciadora digital brasileira, que há mais de 20 anos recebe o Bolsa Família, programa social voltado para famílias em vulnerabilidade, tem gerado polêmica ao utilizar suas redes sociais, com cerca de 700 mil seguidores, para promover o “Jogo do Tigrinho”, uma plataforma de apostas online associada a práticas ilegais. A mulher, cuja identidade não foi oficialmente confirmada pelas autoridades, exibe um estilo de vida que inclui viagens internacionais, roupas de grife e bens de alto valor, o que levanta questionamentos sobre a legitimidade de sua permanência no programa social. A situação reacendeu o debate sobre os critérios de elegibilidade do Bolsa Família e a fiscalização de benefícios, especialmente em um contexto onde mais de 5 milhões de beneficiários gastaram cerca de R$ 3 bilhões em apostas online apenas em agosto de 2024, segundo o Banco Central.
O Bolsa Família, criado em 2003, é destinado a famílias com renda per capita mensal de até R$ 218, visando garantir segurança alimentar, acesso à educação e saúde. No entanto, investigações recentes da Polícia Civil de Goiás, como a Operação Game Over, revelaram que influenciadoras digitais, incluindo casos semelhantes ao da mulher em questão, têm utilizado plataformas como o “Jogo do Tigrinho” para atrair seguidores com promessas de ganhos rápidos, frequentemente simulando lucros fictícios. Essas influenciadoras, segundo a polícia, operam contas “viciadas” que exibem vitórias irreais para incentivar apostas, enquanto recebem comissões por cadastros. A prática é investigada por crimes como estelionato, exploração de jogos de azar e lavagem de dinheiro, com penas que variam de 3 meses a 10 anos de reclusão.
No caso específico, a influenciadora, que não teve seu nome divulgado em fontes oficiais consultadas, teria recebido parcelas do Bolsa Família até pelo menos abril de 2025, apesar de ostentar bens incompatíveis com a renda declarada para o programa. O Portal da Transparência indica que beneficiários devem ter renda familiar per capita inferior ao limite estipulado, e qualquer irregularidade, como ocultação de renda, pode configurar crimes como falsidade ideológica ou estelionato. O delegado Rony Loureiro, responsável por investigações semelhantes em Goiás, destacou que “quem recebe auxílio social sem necessidade deve responder criminalmente”, apontando para a gravidade do uso indevido de benefícios sociais.
Críticos do caso, incluindo parlamentares como o senador Izalci Lucas (PL-DF), argumentam que a manutenção do benefício para pessoas que demonstram capacidade de gerar renda significativa, como influenciadoras digitais, desvirtua o propósito do Bolsa Família. “O programa foi criado para ajudar os mais vulneráveis, não para sustentar quem lucra com atividades questionáveis”, afirmou Lucas em sessão no Senado em setembro de 2024. A visão reflete uma preocupação com a integridade do sistema de transferência de renda, especialmente diante de dados do Banco Central que mostram que 4 milhões de chefes de família beneficiários do Bolsa Família gastaram R$ 2 bilhões em apostas online, comprometendo recursos destinados à subsistência.
Por outro lado, defensores de uma abordagem mais ampla, como o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, argumentam que o problema vai além da fiscalização individual. Em resposta aos dados do Banco Central, Dias anunciou em setembro de 2024 a criação de um grupo de trabalho para coibir o uso do Bolsa Família em apostas, incluindo medidas como a restrição de transações via PIX para plataformas de jogos e programas de educação financeira. “Precisamos proteger os mais vulneráveis, mas também educá-los sobre os riscos de promessas de enriquecimento rápido”, declarou. Essa perspectiva sugere que a dependência de jogos de azar, como o “Jogo do Tigrinho”, é um problema social complexo, que afeta especialmente famílias de baixa renda atraídas por influenciadores digitais.A promoção do “Jogo do Tigrinho” por influenciadores tem agravado casos de endividamento e perdas financeiras. Um exemplo é o de uma mulher de Maceió, que, vivendo do Bolsa Família, perdeu R$ 95 mil em uma plataforma após ser atraída por promessas de uma influenciadora. Casos como esse evidenciam o impacto devastador das apostas online em populações vulneráveis, reforçando a necessidade de regulamentação mais rígida. O Ministério da Fazenda, segundo o secretário-executivo Dario Durigan, planeja medidas para limitar o uso de cartões de crédito em apostas e reforçar a fiscalização de plataformas, mas reconhece dificuldades operacionais.
O caso da influenciadora levanta questões éticas e legais sobre a continuidade de benefícios sociais para pessoas que, aparentemente, não se enquadram nos critérios de vulnerabilidade. Enquanto alguns defendem a suspensão imediata do Bolsa Família nesses casos, outros destacam a importância de investigar a fundo a origem da renda e oferecer apoio para evitar a dependência de jogos de azar. O debate continua, com a sociedade dividida entre a necessidade de proteger os recursos públicos e a garantia de que o programa alcance quem realmente precisa.