Um estudo conduzido pela ONU Mulheres, publicado em abril de 2013, revelou uma realidade alarmante no Egito: 99,3% das mulheres entrevistadas relataram ter sofrido algum tipo de assédio sexual ao longo de suas vidas. A pesquisa, intitulada “Estudo sobre Formas e Métodos para Eliminar o Assédio Sexual no Egito”, destaca a prevalência generalizada desse problema, que afeta mulheres em praticamente todos os espaços públicos, de ruas e transportes coletivos a mercados e shoppings. A gravidade da situação reforça a necessidade de medidas firmes para proteger a segurança e a dignidade das mulheres, promovendo uma sociedade que valorize a igualdade de gênero e o respeito mútuo como pilares de sua cultura.
O relatório da ONU Mulheres aponta que o assédio sexual no Egito assume diversas formas, sendo o toque inapropriado a mais comum, relatado por 96,5% das mulheres que sofreram esse tipo de violência. O assédio verbal, como comentários sexualmente explícitos e assobios, foi reportado por 95,5% das entrevistadas, enquanto 49,2% afirmaram enfrentar assédio diariamente. A pesquisa também revelou que 82,6% das mulheres não se sentem seguras nas ruas, e 86,5% reportaram insegurança em transportes públicos. Esses números expõem uma cultura de permissividade que normaliza o assédio, com 84,6% dos casos ocorrendo sem intervenção de testemunhas, segundo o estudo. A ausência de reação por parte de transeuntes e autoridades reflete um desafio profundo para a coesão social e a segurança pública.
A situação é agravada pela falta de um arcabouço legal robusto. Embora o Egito tenha criminalizado o assédio sexual em 2014, definindo-o pela primeira vez em sua legislação, a aplicação da lei enfrenta obstáculos, como a relutância policial em registrar denúncias e a estigmatização das vítimas. O estudo da ONU Mulheres enfatiza que a promulgação e a execução efetiva de leis contra o assédio são passos fundamentais, mas insuficientes sem mudanças culturais. Iniciativas como as unidades antiassédio em 23 universidades públicas e campanhas de conscientização, como as conduzidas pela HarassMap e pelo Centro Egípcio para os Direitos das Mulheres, são esforços louváveis, mas ainda limitados frente à escala do problema. A pesquisa também desmente mitos comuns, como a ideia de que o assédio está ligado à vestimenta ou comportamento das mulheres, já que 97,2% das entrevistadas, independentemente de usarem hijab ou roupas conservadoras, sofreram violência.
Enquanto o governo egípcio enfrenta críticas por sua resposta insuficiente, a sociedade civil tem se mobilizado para combater o problema. Organizações como a Operação Antiassédio Sexual (OpAntiSH) e o Tahrir Bodyguard organizam equipes de resgate em protestos e espaços públicos, oferecendo apoio às vítimas. Contudo, a persistência de normas patriarcais, que atribuem culpa às mulheres e justificam o comportamento dos agressores, continua a ser um obstáculo. A postura de líderes políticos e religiosos, que muitas vezes minimizam o problema, reforça a necessidade de uma abordagem que combine reformas legais com educação para mudar atitudes culturais enraizadas.