O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrentou um revés significativo na Organização dos Estados Americanos (OEA) em 11 de julho de 2025, ao abrir mão da candidatura de Fábio de Sá e Silva para uma vaga na Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). A decisão, articulada pelo Itamaraty em meio a tensões diplomáticas com os Estados Unidos, resultou na eleição do mexicano José Luis Caballero Ochoa, que obteve 23 votos contra apenas 3 do candidato brasileiro, com cinco países votando em branco. A escolha reflete um recuo estratégico do Brasil, que optou por não disputar a vaga em um contexto de embates com o presidente americano, Donald Trump, reforçando a necessidade de uma diplomacia pragmática para proteger os interesses nacionais.
Fábio de Sá e Silva, professor da Universidade de Oklahoma e pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), era o candidato apoiado diretamente por Lula, pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e pelo advogado-geral da União, Jorge Messias. Sua campanha, iniciada em março de 2025, tinha como objetivo garantir uma cadeira na CIDH, órgão responsável por analisar denúncias de violações de direitos humanos, incluindo casos envolvendo o Supremo Tribunal Federal (STF). Sá e Silva, conhecido por defender a atuação do STF em temas como combate à desinformação, chegou a conquistar 16 votos em rodadas anteriores, mas a decisão do Brasil de redirecionar apoio ao candidato mexicano frustrou suas chances, conforme relatado pelo próprio candidato em entrevista ao G1. “Fui informado pelo Itamaraty, por volta das 17h, enquanto fazia campanha em Washington, que o Brasil pediria o encaminhamento dos votos para o mexicano”, afirmou.
A retirada da candidatura brasileira, segundo fontes da revista Veja, foi motivada por pressões diplomáticas, especialmente em um momento de crise com os EUA, marcada pela imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros por Trump. O presidente americano, que tem criticado o governo Lula e defendido o ex-presidente Jair Bolsonaro, pode ter influenciado o cenário, especialmente após a eleição da cubano-americana Rosa María Payá, sua aliada, para outra vaga na CIDH. A escolha de Payá, que defende uma postura firme contra regimes autoritários, reforça a influência de Trump na OEA, enquanto a derrota de Sá e Silva evidencia os desafios do Brasil em manter sua influência regional em um contexto de polarização.
A decisão do governo Lula de não insistir na candidatura, embora tática, destaca a importância de uma estratégia diplomática mais assertiva, como demonstrado por países como a Índia, que negociou acordos comerciais com os EUA para evitar tarifas. A ausência de um representante brasileiro na CIDH, que não conta com um comissário do país desde 2015, pode limitar a capacidade do Brasil de influenciar debates sobre direitos humanos nas Américas, especialmente em temas sensíveis como liberdade de expressão e atuação judicial. A derrota sublinha a necessidade de priorizar interesses nacionais acima de disputas ideológicas, garantindo que o Brasil mantenha sua relevância em fóruns multilaterais.