Em um editorial publicado em 1º de março de 2023, o jornal Wall Street Journal criticou a decisão do governo brasileiro, sob a liderança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de autorizar a atracação de dois navios de guerra iranianos, o IRIS Makran e o IRIS Dena, no porto do Rio de Janeiro entre 26 de fevereiro e 4 de março de 2023. A medida, aprovada pela Marinha brasileira apesar de pressões dos Estados Unidos para sua rejeição, foi vista como um sinal de aproximação entre Brasília e Teerã, gerando preocupações sobre a segurança regional e a postura do Brasil em relação a regimes que enfrentam sanções internacionais. O jornal argumenta que a decisão reflete uma política externa que pode comprometer a estabilidade do Hemisfério Ocidental, dado o histórico do Irã de apoio a atividades terroristas.
A autorização para os navios iranianos atracarem no Rio foi formalizada pelo vice-almirante Carlos Eduardo Horta Arentz, conforme publicado no Diário Oficial da União em 23 de fevereiro de 2023. A embaixadora dos EUA no Brasil, Elizabeth Bagley, havia solicitado que o governo brasileiro negasse a entrada das embarcações, citando seu envolvimento em “atividades ilícitas” e o risco de violação de sanções americanas. O Wall Street Journal destacou que, durante a visita de Lula a Washington em 9 de fevereiro de 2023, o presidente Joe Biden não abordou publicamente o tema, o que o jornal interpretou como uma falha em confrontar um gesto que poderia fortalecer a influência iraniana na América Latina. O editorial sublinhou que “nenhum outro país do hemisfério” permitiu a atracação desses navios, sugerindo que a decisão brasileira foi um outlier preocupante.
O governo brasileiro defendeu a autorização como um exercício de soberania, argumentando que o Brasil mantém relações diplomáticas com o Irã há 120 anos e que a visita era parte de celebrações bilaterais. O Itamaraty, por meio do ministro Mauro Vieira, afirmou que o país não se curva a pressões externas e não reconhece sanções unilaterais, apenas as aprovadas pelo Conselho de Segurança da ONU. No entanto, o Wall Street Journal questionou a neutralidade dessa postura, apontando que o Irã é acusado de patrocinar o terrorismo e reprimir brutalmente dissidentes internos, como no caso da morte de Mahsa Amini em 2022, que desencadeou protestos nacionais reprimidos com violência. O jornal sugeriu que a decisão de Lula reflete uma política externa que prioriza alinhamentos ideológicos em detrimento da segurança global.
A crítica do jornal também se estende ao contexto mais amplo da política externa brasileira. O Wall Street Journal lembrou que, em 2010, Lula tentou mediar um acordo nuclear com o Irã, a Declaração de Teerã, que foi rejeitado pelos EUA e outras potências por não abordar preocupações sobre o enriquecimento de urânio para fins militares. A autorização dos navios em 2023 foi vista como uma continuação dessa abordagem, que, segundo o jornal, ignora as implicações de se alinhar com um regime que desestabiliza o Oriente Médio. O senador americano Ted Cruz, em 28 de fevereiro de 2023, classificou a decisão como uma “ameaça direta à segurança dos americanos”, sugerindo que o porto do Rio e empresas brasileiras poderiam enfrentar sanções.
A reação internacional ao episódio incluiu críticas de Israel, que, em 2 de março de 2023, classificou a permissão como “perigosa e lamentável”. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Israel, Lior Haiat, pediu que o Brasil reconhecesse o Irã como uma “entidade terrorista”. No cenário doméstico, a decisão gerou debates, com opositores, como o deputado Filipe Barros (PL-PR), argumentando que a postura de Lula enfraquece a tradicional neutralidade brasileira e favorece regimes autoritários. O Wall Street Journal reforçou essa visão, alertando que a aproximação com o Irã pode alienar aliados ocidentais e comprometer a credibilidade do Brasil como mediador global.
