A Polícia Federal Criminal da Alemanha (BKA) realizou, desde 25 de junho de 2025, operações em ao menos 170 residências em todo o país, com o objetivo de investigar cidadãos acusados de publicar conteúdos considerados “discurso de ódio” ou insultos a políticos nas redes sociais. As ações, que incluíram buscas e apreensões de dispositivos eletrônicos, geraram críticas de setores que veem as medidas como uma forma de repressão à liberdade de expressão, levantando debates sobre os limites do controle estatal sobre a internet e o direito à opinião.
As operações, coordenadas pelo Ministério do Interior, baseiam-se na Lei de Aplicação da Rede (NetzDG), aprovada em 2017 e atualizada em 2021, que obriga plataformas digitais a remover conteúdos considerados ilegais, como ofensas graves ou incitação à violência, em até 24 horas após denúncias. Segundo a BKA, as ações visaram indivíduos que teriam postado comentários ou memes ofensivos, incluindo críticas a figuras públicas, como o ministro da Economia, Robert Habeck. Um caso amplamente noticiado envolveu um homem, pai de uma filha com síndrome de Down, que teve sua casa revistada às 6h da manhã por compartilhar um meme sobre Habeck, conforme reportagens da Deutsche Welle e da revista Der Spiegel.
A Alemanha é um dos países europeus com legislações mais rigorosas contra o “discurso de ódio” online, refletindo uma postura de combate à desinformação e à polarização. Dados do governo alemão indicam que, em 2024, cerca de 3.500 casos de “crimes online” foram investigados, com um aumento de 20% em relação a 2023. No entanto, críticos apontam que a definição de “discurso de ódio” é ampla e subjetiva, permitindo interpretações que podem silenciar vozes dissidentes. Organizações como a Anistia Internacional expressaram preocupação com a possibilidade de tais leis serem usadas para criminalizar críticas legítimas, especialmente em um contexto de crescente insatisfação com políticas governamentais, como as relacionadas à imigração e à economia.
A percepção de que as operações representam uma forma de opressão é compartilhada por setores da sociedade alemã, especialmente entre grupos conservadores e libertários. Pesquisas recentes, como um levantamento do instituto Forsa, indicam que 62% dos alemães sentem que a liberdade de expressão está sob ameaça, com muitos citando o medo de represálias por opiniões políticas. Casos como o de uma mulher em Berlim, que teve seu laptop confiscado por comentários críticos a um político local no X, reforçam a narrativa de que as ações policiais podem estar desproporcionalmente direcionadas a cidadãos comuns, enquanto crimes mais graves, como violência física, recebem menos atenção.
O governo alemão defende as operações como necessárias para proteger a democracia contra o extremismo e a desinformação, apontando para incidentes como os ataques verbais a políticos durante a campanha eleitoral de 2024. No entanto, a intensidade das batidas policiais, frequentemente realizadas ao amanhecer e com equipes armadas, tem sido comparada por críticos a táticas de intimidação. A imprensa internacional, incluindo a BBC, destacou que a Alemanha enfrenta o desafio de equilibrar a segurança pública com a preservação de direitos fundamentais, em um momento em que a confiança nas instituições democráticas está abalada.