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Irã Reconhece Apoio Brasileiro e Confirma Danos em Instalações Nucleares Após Ataques Americanos

O recente conflito entre Israel, Irã e Estados Unidos, iniciado em 12 de junho de 2025, trouxe à tona tensões geopolíticas que reverberaram globalmente, incluindo no Brasil. O governo iraniano, por meio de seu embaixador em Brasília, Abdollah Nekounam, expressou agradecimento ao Brasil pela postura adotada durante a guerra de 12 dias contra Israel. A declaração, feita em 26 de junho, destacou a condenação brasileira aos ataques de Israel e dos EUA contra instalações nucleares iranianas, interpretada por Teerã como um gesto de apoio. Contudo, a posição do Brasil, liderada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, gerou controvérsias internas e externas, com críticos apontando que tal postura pode ser vista como alinhamento com um regime autoritário, contrariando valores democráticos e a neutralidade tradicional da política externa brasileira.

A guerra começou com um ataque surpresa de Israel em 13 de junho, visando instalações militares e nucleares iranianas, sob a alegação de impedir o desenvolvimento de armas nucleares. O Irã, que insiste no caráter pacífico de seu programa nuclear, retaliou com mísseis contra cidades israelenses, como Tel Aviv, causando 28 mortes e mais de 1.400 feridos, segundo autoridades de Israel. Em 21 de junho, os Estados Unidos intensificaram o conflito ao bombardear três instalações nucleares iranianas – Fordow, Natanz e Isfahan – em uma operação chamada “Midnight Hammer”. Imagens de satélite e declarações do Pentágono indicam danos significativos, embora o Irã minimize os impactos, afirmando que nenhum material radioativo foi comprometido e que as usinas foram evacuadas previamente. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) confirmou, em 22 de junho, que não houve aumento nos níveis de radiação, mas alertou para os riscos de ataques a instalações nucleares, considerados ilegais pelo direito internacional.

O Brasil, por meio do Ministério das Relações Exteriores, divulgou uma nota em 22 de junho condenando “com veemência” os ataques de Israel e dos EUA, classificando-os como violações da soberania iraniana e da Carta da ONU. A nota destacou os perigos de contaminação radioativa e reiterou o apoio brasileiro ao uso pacífico da energia nuclear, rejeitando a proliferação nuclear em regiões instáveis. O Itamaraty também pediu moderação e uma solução diplomática, refletindo a postura histórica do país em favor da paz e da não intervenção. Contudo, a ausência de críticas diretas às ações retaliatórias do Irã, que incluíram ataques a uma base americana no Catar e a cidades israelenses, levou a acusações de parcialidade. Analistas como Fernando Brancoli, da UFRJ, apontam que a posição brasileira, embora ancorada no direito internacional, pode ser interpretada como um endosso implícito ao Irã, especialmente em um contexto onde o regime iraniano é criticado por violações de direitos humanos e repressão interna.

O agradecimento do Irã ao Brasil, feito durante uma coletiva de imprensa, também mencionou o apoio dos BRICS, grupo do qual ambos os países fazem parte. O embaixador Nekounam destacou o papel do bloco na construção de uma ordem mundial mais equilibrada, sugerindo que a condenação brasileira fortalece a narrativa iraniana de resistência contra potências ocidentais. No entanto, a postura do Brasil contrasta com a de outras democracias, que, embora divididas, expressaram maior cautela ou apoio aos ataques dos EUA e de Israel, temendo as implicações de um Irã nuclearmente armado. A Rússia, aliada de Teerã, condenou os ataques americanos, enquanto o Catar, que abriga a base de Al Udeid, classificou a retaliação iraniana como uma “violação flagrante”.

O cessar-fogo, anunciado por Donald Trump em 23 de junho, foi mediado com apoio do Catar e aceito por ambos os lados, embora Israel e Irã tenham reivindicado vitórias parciais. Trump afirmou que os ataques americanos “aniquilaram” as capacidades nucleares iranianas, enquanto o líder supremo do Irã, Aiatolá Ali Khamenei, negou danos significativos e celebrou a resistência do país. No Brasil, a posição do governo foi alvo de críticas em setores conservadores, que acusam Lula de se alinhar a regimes autoritários, ignorando as ameaças representadas pelo Irã. Por outro lado, defensores da política externa brasileira argumentam que a condenação aos ataques reflete um compromisso com a soberania nacional e o direito internacional, evitando o endosso a intervenções militares unilaterais.

O conflito expôs a complexidade da posição brasileira no cenário global, equilibrando princípios de não intervenção com pressões internacionais. Enquanto o Irã busca apoio para reconstruir sua narrativa diplomática, o Brasil enfrenta o desafio de manter sua credibilidade como mediador neutro, em um momento em que a estabilidade no Oriente Médio permanece frágil.

Gustavo De Oliveira

Escritor

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