No início de junho de 2025, o Egito intensificou sua resposta a ativistas estrangeiros que tentaram organizar a chamada “Marcha Global por Gaza” em seu território, resultando na detenção e deportação de dezenas de manifestantes, majoritariamente ocidentais, na capital Cairo. A ação das autoridades egípcias, apoiada por setores da população local, expôs a relutância dos países vizinhos de Gaza em se envolverem em iniciativas que possam destabilizar a região ou desafiar sua segurança nacional. O episódio também destaca os riscos enfrentados por ativistas ocidentais que se aventuram em áreas de alta sensibilidade geopolítica, onde suas intenções, por mais idealistas que sejam, podem ser recebidas com desconfiança ou hostilidade.
A “Marcha Global por Gaza”, planejada por grupos como a coalizão Soumoud, buscava pressionar por um cessar-fogo na Faixa de Gaza e chamar atenção para a crise humanitária na região. Centenas de ativistas de países como França, Suécia, Dinamarca, Marrocos, Argélia e Tunísia chegaram ao Cairo com o objetivo de cruzar a passagem de Rafah, na fronteira com Gaza. No entanto, as autoridades egípcias, citando a falta de permissões necessárias, impediram a entrada de muitos no país e detiveram outros em hotéis ou no Aeroporto Internacional do Cairo. Segundo o The Jerusalem Post, cerca de 200 ativistas foram interrogados, com dezenas deportados, incluindo os suecos Issam Al-Jishi e Muhammad Shaaban, e os dinamarqueses Ziad Shaker e Karim Shaker, conforme relatado pelo site sueco AlKompis. Mais de 60 argelinos, incluindo advogados e jornalistas, também foram detidos, segundo grupos tunisianos e líbios.
A repressão não se limitou às autoridades. Em Rafah, confrontos entre ativistas ocidentais e egípcios locais foram relatados, com manifestantes sendo acusados de causar transtornos e desrespeitar as leis locais. Alguns ativistas, descritos por moradores como “estrangeiros intrometidos”, enfrentaram resistência física, sendo forçados a entrar em ônibus para deportação, conforme noticiado pela Quds News Network. A hostilidade reflete o sentimento de muitos egípcios, que veem tais iniciativas como potencialmente desestabilizadoras, especialmente em um contexto de tensões regionais envolvendo Israel, Irã e grupos como o Hamas. O Egito, que mantém um rígido controle sobre a passagem de Rafah e construiu um muro fortificado ao redor de Gaza, prioriza sua segurança interna e as relações diplomáticas, evitando qualquer ação que possa ser interpretada como apoio a movimentos que desafiem o status quo.
A relutância do Egito em acolher a marcha não é isolada. Outros vizinhos de Gaza, como a Jordânia, também impõem restrições a protestos pró-Palestina, temendo que tais ações possam inflamar tensões internas ou prejudicar acordos com Israel e os Estados Unidos. Essa postura evidencia uma realidade complexa: mesmo países árabes, que expressam apoio retórico à causa palestina, hesitam em se envolver diretamente em iniciativas que possam comprometer sua estabilidade. Para os ativistas ocidentais, muitas vezes movidos por ideais de justiça global, a falta de apoio regional sublinha os perigos de atuar em áreas onde as dinâmicas políticas e culturais são profundamente diferentes. A região do Sinai, próxima a Rafah, é conhecida por sua instabilidade, com presença de grupos extremistas e operações militares egípcias, tornando-a um ambiente de alto risco para protestos não autorizados.
O episódio no Cairo serve como um alerta sobre os limites do ativismo em contextos geopolíticos sensíveis. A determinação egípcia em bloquear a marcha, combinada com a resistência de moradores locais, demonstra que a solidariedade internacional com Gaza enfrenta barreiras significativas, mesmo entre os vizinhos do enclave. Para os ocidentais envolvidos, a experiência destaca a necessidade de maior compreensão das realidades locais antes de se engajar em ações que podem colocá-los em situações de perigo ou antagonismo com as comunidades que buscam apoiar.