Em um interrogatório conduzido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 10 de junho de 2025, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) adotou uma postura surpreendentemente cordial, contrastando com seu histórico de embates com a Corte. Durante a sessão, que investigava uma suposta tentativa de golpe de Estado para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2023, Bolsonaro negou qualquer intenção de ruptura democrática, defendeu sua conduta dentro da Constituição e protagonizou momentos de descontração que arrancaram risos da plateia. Em um desses instantes, ele perguntou ao ministro Alexandre de Moraes, relator do caso: “Posso fazer uma piada, ministro? Eu gostaria de convidá-lo para ser meu vice em 2026”. Moraes, com bom humor, respondeu: “Eu declino”, gerando risadas no plenário, conforme noticiado pelo G1 e pela BBC News Brasil. O depoimento, que durou cerca de duas horas, reforçou a importância de um Judiciário imparcial e de investigações baseadas em fatos, em meio a um processo que testa a solidez das instituições brasileiras.
Questionado por Moraes sobre suas críticas às urnas eletrônicas, Bolsonaro apresentou uma defesa embasada, citando falas de figuras públicas que também questionaram o sistema eleitoral. Ele mencionou o atual ministro do STF Flávio Dino, que, após perder a eleição para governador do Maranhão em 2010, afirmou ter sido vítima de um processo que precisava de aprimoramento. Bolsonaro também trouxe à tona declarações do presidente do PDT, Carlos Lupi, reforçando que a desconfiança nas urnas não era exclusividade sua. “A questão da suspeição ou crítica às urnas não é algo privativo meu”, disse, conforme registrado pela CNN Brasil. Embora Moraes tenha rebatido que o inquérito não tratava de urnas, mas de tentativa de golpe, a argumentação de Bolsonaro buscou contextualizar suas declarações como parte de um debate mais amplo, sem intenção de desestabilizar a democracia.
Outro ponto marcante do depoimento foi a explicação de Bolsonaro sobre sua ausência na cerimônia de posse de Lula, em 1º de janeiro de 2023, quando optou por não passar a faixa presidencial. “Não ia me submeter a passar a faixa pra esse atual mandatário que está aí. Eu não ia me submeter à maior vaia da história do Brasil”, afirmou, segundo o Estadão. Ele negou que a decisão tivesse conotação golpista, classificando-a como pessoal e motivada pelo desejo de evitar constrangimentos. A declaração, embora polêmica, reflete a postura de Bolsonaro de manter sua base mobilizada, mesmo após a derrota eleitoral, sem, segundo ele, incitar atos contra as instituições.
O interrogatório também abordou a chamada “minuta golpista”, um documento que sugeria medidas como estado de sítio e novas eleições. Bolsonaro admitiu ter assistido a uma apresentação do texto, mas negou tê-lo editado ou assinado, conforme relatado pelo G1. Ele afirmou que a discussão foi rapidamente descartada por não ter respaldo constitucional e que nunca convocou o Conselho da República ou o Conselho de Defesa, necessários para tais medidas. “Golpe é uma coisa abominável. Nunca se falou em golpe”, declarou, segundo a BBC News Brasil.