A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), figura de destaque no cenário político conservador brasileiro, anunciou em 3 de junho de 2025 que deixou o Brasil para se estabelecer na Europa, onde possui cidadania italiana. A parlamentar, que alega motivos de saúde para a viagem, declarou que usará sua posição no exterior para denunciar o que considera uma “ditadura” instaurada por decisões judiciais no Brasil, particularmente as do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Condenada a 10 anos de prisão por envolvimento na invasão do sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Zambelli enfrenta agora a prisão preventiva decretada por Moraes, além da inclusão de seu nome na lista vermelha da Interpol. Em um desdobramento que gerou controvérsia, o ministro também determinou o bloqueio das redes sociais de seu filho, João Zambelli, de 17 anos, intensificando as tensões em torno do caso. A situação levanta questões sobre os limites da atuação judicial, a liberdade de expressão e o impacto de decisões do STF sobre a política brasileira.
Carla Zambelli, eleita em 2018 e reeleita em 2022 com expressiva votação, foi condenada em 14 de maio de 2025 pela Primeira Turma do STF por falsidade ideológica e invasão de sistemas do CNJ, em conjunto com o hacker Walter Delgatti Neto. Segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), Zambelli teria orquestrado a inserção de documentos falsos, incluindo um mandado de prisão contra o próprio Moraes, com o objetivo de desestabilizar o Judiciário. A sentença, que inclui a perda do mandato e inelegibilidade por oito anos, foi vista pela deputada como uma tentativa de silenciá-la devido à sua postura crítica às instituições. “Fui condenada sem provas concretas, em um processo que viola meu direito de defesa. Não me calarei e levarei ao mundo a verdade sobre o que acontece no Brasil”, afirmou Zambelli em entrevista à Revista Oeste. Após a condenação, ela deixou o país, passando pelos Estados Unidos antes de chegar à Itália, onde sua cidadania pode dificultar, mas não impedir, uma eventual extradição, conforme apontado por especialistas em direito internacional.
A decisão de Moraes de incluir Zambelli na lista vermelha da Interpol, confirmada em 5 de junho de 2025, coloca a deputada como foragida em 196 países. Além disso, o ministro ordenou o bloqueio de seus bens, salários, verbas parlamentares e perfis em redes sociais, incluindo plataformas como Instagram, YouTube e Telegram. A medida mais polêmica, no entanto, foi a suspensão das contas de João Zambelli, um jovem de 17 anos que começava a se engajar politicamente. João, emancipado pela mãe para uma possível candidatura em 2028, criou um novo perfil no Instagram, onde expressou indignação: “Na ânsia de destruir minha mãe, Moraes agora persegue minha avó e eu, um adolescente. Que crime cometi?”. A medida foi justificada pelo STF como necessária para evitar que as contas da família fossem usadas para propagar desinformação, mas críticos apontam que a extensão das punições a parentes levanta preocupações sobre proporcionalidade e respeito aos direitos individuais.
Desde 2019, medidas como prisões preventivas, bloqueios de contas e apreensões de passaportes foram aplicadas a figuras como Allan dos Santos e Oswaldo Eustáquio, também exilados. A Interpol, agora presidida pelo delegado brasileiro Valdecy Urquiza, aceitou o pedido de inclusão de Zambelli, mas rejeitou solicitações semelhantes para outros, citando restrições relacionadas a pedidos de asilo político. O caso também ganhou projeção internacional, com Zambelli prometendo denunciar Moraes em fóruns globais, como a ONU, sob a Lei Magnitsky, que pune violações de direitos humanos. A deputada alega que sua saída do Brasil não é uma fuga, mas uma resistência contra o que chama de “tirania da toga”.
A situação de João Zambelli, que se apresenta como “censurado” em suas redes, adiciona um elemento humano ao caso. O jovem, que teme pela segurança financeira de sua família caso o mandato da mãe seja cassado, questionou: “Onde vamos morar? Como minha avó, com 75 anos, e eu, com 17, vamos nos sustentar?”. A inclusão de parentes nas medidas judiciais foi criticada por aliados como uma tentativa de intimidação, enquanto o STF defende que as ações visam proteger a democracia contra ataques coordenados. O caso, agora em julgamento de recurso no STF, pode definir precedentes sobre a relação entre Judiciário e Legislativo, especialmente em um contexto de alta tensão política às vésperas das eleições de 2026.