O presidente da França, Emmanuel Macron, determinou a elaboração de medidas urgentes contra a Irmandade Muçulmana e o radicalismo islâmico após a divulgação de um relatório governamental que aponta a organização como uma ameaça à coesão nacional. O documento, vazado ao jornal Le Figaro e debatido em uma reunião do Conselho de Defesa e Segurança Nacional em 21 de maio de 2025, acusa a Irmandade de promover “ecossistemas islâmicos” em escolas, associações culturais, esportivas e autarquias, com o objetivo de moldar as regras seculares e de gênero da França. Com 73 páginas, o relatório, encomendado pelo governo e parcialmente revelado pela Agence France-Presse, destaca uma estratégia de “entrismo” — infiltração silenciosa em instituições para alterar suas normas a longo prazo. A iniciativa de Macron, confirmada por fontes como Reuters e Le Monde, reforça a defesa da laicidade, pilar da identidade francesa, mas gera críticas por risco de estigmatização de muçulmanos, em um contexto de crescente polarização política.
O relatório identifica a Musulmans de France, anteriormente chamada União das Organizações Islâmicas da França (UOIF), como o principal braço da Irmandade no país, com 139 mesquitas e 280 associações afiliadas. Ele aponta que a organização, fundada no Egito em 1928 com o objetivo de estabelecer a sharia por meios pacíficos, opera de forma dissimulada, evitando confrontos diretos com o Estado, mas promovendo uma “islamização cultural” que desafia os princípios republicanos. Segundo o documento, a Irmandade utiliza plataformas como YouTube, TikTok e Instagram para atingir jovens, com influenciadores digitais que adaptam mensagens religiosas e políticas, criando uma narrativa contrária à laicidade. O relatório também menciona tentativas de influência em instituições europeias, com financiamento de países como Qatar e Turquia, por meio de grupos como o Conselho de Muçulmanos Europeus (CEM) e o Fórum de Jovens e Estudantes Muçulmanos (FEMYSO), que negam vínculos com a Irmandade.
Macron, que presidiu a reunião do Conselho de Defesa, exigiu propostas concretas até junho, enfatizando que o combate não é contra o Islã, mas contra o “islamismo político” que subverte os valores republicanos. O ministro do Interior, Bruno Retailleau, alertou para um “islamismo de baixo perfil” que busca impor a sharia, enquanto o ex-primeiro-ministro Gabriel Attal, líder do partido Renaissance, sugeriu proibir o véu islâmico (hijab) para menores de 15 anos em espaços públicos, intensificando o debate sobre símbolos religiosos. Essas propostas ampliam medidas anteriores, como a proibição da abaya em escolas públicas em 2023 e a lei anti-separatismo de 2021, que já restringiu financiamento estrangeiro a mesquitas e ampliou a vigilância sobre associações.
A estratégia de Macron reflete esforços anteriores contra o radicalismo, como a resposta ao assassinato do professor Samuel Paty em 2020, decapitado por mostrar caricaturas de Maomé em aula. Desde então, a França intensificou a repressão a organizações suspeitas, como o Collectif contre l’Islamophobie en France (CCIF), dissolvido por promover narrativas radicais.