Um movimento crescente no Reino Unido tem reacendido o debate sobre práticas de abate religioso, com uma petição pública que busca proibir o abate halal sem atordoamento prévio, alegando preocupações com o bem-estar animal. Lançada em janeiro de 2025, a petição está próxima de atingir 100 mil assinaturas, marco necessário para que o tema seja considerado para debate no Parlamento britânico. Até 4 de maio de 2025, faltam cerca de 3 mil assinaturas para alcançar esse objetivo, segundo informações divulgadas em plataformas de ativismo online. A iniciativa ganhou destaque após o Muslim Council of Britain (MCB) alertar que uma proibição poderia levar muçulmanos a deixar o país em massa, intensificando as tensões em torno da questão.
O abate halal, conhecido como dhabiha, é um ritual islâmico que envolve o corte da garganta do animal com uma faca afiada, garantindo que todo o sangue seja drenado. Embora a maioria dos abates halal no Reino Unido (cerca de 85% para carne branca e 69% para carne vermelha, conforme a Food Standards Agency de 2022) utilize atordoamento prévio, a prática sem atordoamento, permitida por uma isenção legal para muçulmanos e judeus, é alvo de críticas de ativistas de direitos animais. Organizações como a RSPCA e a British Veterinary Association argumentam que o corte na garganta de um animal consciente causa dor significativa, com estudos indicando que ovelhas podem levar até 7 segundos e bovinos até 40 segundos para perder a consciência.
A petição reflete um sentimento de parte da população britânica que considera o abate sem atordoamento incompatível com os padrões modernos de bem-estar animal. Seus defensores apontam que países como Dinamarca, Suécia e Noruega já implementaram restrições a práticas religiosas de abate sem atordoamento, sugerindo que o Reino Unido deveria seguir o exemplo. Eles enfatizam que a legislação britânica exige o atordoamento de animais antes do abate, exceto para atender às necessidades religiosas, e questionam por que essa isenção persiste em uma nação conhecida por sua tradição de proteção animal.
Por outro lado, o MCB, uma das principais organizações muçulmanas do Reino Unido, expressou profunda preocupação com a proposta. Em comunicado recente, a entidade destacou que proibir o abate halal sem atordoamento seria percebido como um ataque direto à liberdade religiosa, potencialmente forçando muçulmanos a buscar países onde suas práticas sejam respeitadas. A organização argumenta que o abate halal, quando realizado corretamente, segue padrões éticos rigorosos, com a Halal Authority Board afirmando que a crueldade é um pecado no Islã e que métodos certificados garantem a humanização do processo. Além disso, líderes muçulmanos apontam que a maioria dos abates halal já incorpora o atordoamento, sugerindo que a petição pode estar desinformada ou motivada por preconceitos.
O debate não é novo. Em 2015, imagens de maus-tratos em um abatedouro halal em Yorkshire, divulgadas pela Animal Aid, levaram a uma petição semelhante com mais de 100 mil assinaturas. Na ocasião, o governo britânico reiterou seu apoio aos direitos religiosos, mas incentivou padrões mais altos de bem-estar animal. Em 2018, o conselho de Lancashire tentou proibir carne halal não atordoada em escolas, mas a decisão foi suspensa após protestos da comunidade muçulmana e uma revisão judicial. Esses episódios mostram como o tema é sensível, frequentemente dividido entre a defesa dos direitos animais e a proteção das liberdades religiosas.
A atual petição, hospedada no site oficial do Parlamento, reflete um apelo por mudanças na legislação que equilibre tradição e modernidade. Se atingir o marco de 100 mil assinaturas, o governo será pressionado a responder formalmente, podendo levar a um debate parlamentar. Enquanto isso, o Reino Unido permanece em um impasse cultural, onde valores de compaixão pelos animais e respeito pela diversidade religiosa colidem, desafiando a sociedade a encontrar um caminho que honre suas raízes humanitárias sem alienar comunidades que há gerações contribuem para o tecido nacional.