O governo da Índia intensificou esforços para negociar um acordo comercial bilateral com os Estados Unidos, visando escapar das tarifas recíprocas impostas pelo presidente Donald Trump em 2 de abril de 2025. Após o anúncio do “Dia da Libertação”, que aplicou uma taxa de 10% a todos os países e uma sobretaxa adicional de 17% à Índia – totalizando 27% sobre suas exportações –, Nova Délhi busca um entendimento que minimize o impacto econômico e preserve sua posição no mercado americano. A estratégia reflete uma resposta pragmática às pressões do protecionismo de Trump, que afetou mais de 180 nações com tarifas que variam de 10% a 50%.
A Índia, que exportou US$ 74 bilhões em bens para os EUA em 2024, segundo o USTR, enfrenta um cenário delicado. Setores como joias (US$ 8,5 bilhões), farmacêuticos (US$ 8 bilhões) e petroquímicos (US$ 4 bilhões) estão entre os mais vulneráveis às novas taxas, que entraram em vigor em duas fases: 10% em 5 de abril e o restante em 9 de abril. Para evitar perdas estimadas em até US$ 7 bilhões anuais, conforme projeção da Citi Research, o governo indiano sinalizou disposição para reduzir tarifas sobre US$ 23 bilhões em importações americanas, incluindo produtos agrícolas como amêndoas e uísque bourbon, além de bens industriais. A proposta foi ventilada após uma visita do ministro do Comércio, Piyush Goyal, a Washington em março, com o objetivo de acelerar as conversas iniciadas em fevereiro entre o premiê Narendra Modi e Trump.
O diálogo ganhou urgência após Trump elogiar Modi como “um grande amigo”, mas criticar as tarifas indianas de 52% como “muito duras”. Em troca de alívio nas sobretaxas americanas, a Índia propôs cortar barreiras em 55% de suas importações dos EUA, uma concessão significativa para um país historicamente protecionista, com uma média tarifária de 17%, segundo o Banco Mundial. O objetivo de longo prazo, traçado em fevereiro, é dobrar o comércio bilateral para US$ 500 bilhões até 2030, mas o sucesso depende de um acordo que contorne as tarifas atuais. O Departamento de Comércio indiano afirmou estar “examinando cuidadosamente” as implicações, enquanto evita retaliações, ao contrário de nações como a China, que respondeu com taxas de 34%.
A postura da Índia contrasta com sua resistência passada a pressões americanas, especialmente na agricultura, onde protege milhões de pequenos agricultores. Especialistas do Global Trade Research Initiative (GTRI) veem uma oportunidade para o país ganhar espaço em setores como têxtil e eletrônicos, aproveitando as tarifas mais altas impostas a concorrentes como Vietnã (46%) e Bangladesh (37%). No entanto, desafios como infraestrutura deficiente e custos logísticos elevados podem limitar os ganhos, conforme alertou Biswajit Dhar, do Council for Social Development. Enquanto as negociações avançam, com uma primeira fase do acordo esperada até o fim de 2025, a Índia busca equilibrar abertura comercial com a defesa de seus interesses nacionais em um mundo de crescente incerteza econômica.