O Secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, tem se destacado ao apontar El Salvador como uma referência para o combate à criminalidade no Brasil. Em um pronunciamento no dia 27 de março de 2025, durante uma audiência na Assembleia Legislativa de São Paulo, ele elogiou as políticas implementadas pelo presidente Nayib Bukele, que levaram o país centro-americano a registrar 864 dias sem homicídios até o momento, dos quais 751 ocorreram sob o estado de emergência iniciado em 2022. Derrite enfatizou que a prisão de mais de 86 mil suspeitos de integrarem gangues foi essencial para essa transformação, sugerindo que o Brasil poderia se beneficiar de uma abordagem semelhante contra o crime organizado.
El Salvador, que já foi um dos países mais violentos do mundo, com uma taxa de homicídios de 81 por 100 mil habitantes em 2016, segundo o Banco Mundial, hoje exibe números impressionantes: em 2024, a taxa caiu para 1,9 por 100 mil, conforme o governo local. Para Derrite, esse resultado é fruto de uma postura implacável contra grupos criminosos, como as gangues MS-13 e Barrio 18, algo que ele compara à atuação de facções como o PCC e o Comando Vermelho no Brasil. Ele argumenta que a tolerância excessiva enfraquece a segurança pública, enquanto medidas firmes trazem alívio à população.
No mesmo discurso, Derrite criticou duramente o programa “Justiça Presente”, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que busca melhorar as condições do sistema prisional e reduzir abusos contra detentos. Implementado em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o projeto inclui metas como a diminuição da superlotação e a garantia de direitos básicos até 2030. Para o secretário, essas iniciativas desviam recursos e atenção do combate direto ao crime, privilegiando o que ele descreveu como uma visão “romântica” da justiça em detrimento da proteção da sociedade. Ele também questionou a eficácia das audiências de custódia, alegando que elas contribuem para a impunidade ao liberar rapidamente suspeitos de crimes graves.
A visão de Derrite encontra eco em setores que clamam por soluções práticas para a violência, mas gera controvérsia. O modelo salvadorenho, embora tenha reduzido a criminalidade, é alvo de denúncias por parte de organizações como a Anistia Internacional, que documentaram prisões em massa de pessoas sem provas, incluindo menores de idade, e condições precárias nas cadeias, como no Centro de Confinamento do Terrorismo (CECOT). No Brasil, especialistas alertam que replicar essa estratégia exigiria adaptações, dado o tamanho do país e a complexidade de suas dinâmicas sociais.
Sob sua gestão em São Paulo, Derrite já implementou ações que refletem essa linha dura, como as operações na Baixada Santista, que resultaram em 56 mortes entre 2023 e 2024, segundo o Instituto Sou da Paz. Ele defende que a presença ostensiva da polícia e o uso letal da força, quando necessário, são ferramentas legítimas para restaurar a ordem. Em contrapartida, o Ministério da Justiça brasileiro destaca que programas como o Enfoc, lançado em 2023, já apreenderam R$ 2 bilhões em bens de facções, mostrando que é possível avançar sem abrir mão das garantias constitucionais.
A discussão levantada por Derrite expõe um embate entre segurança e direitos, com El Salvador servindo como um espelho para suas ideias. Seus elogios ao país vizinho e suas críticas ao CNJ sinalizam uma preferência por soluções que priorizem resultados visíveis, mesmo que isso signifique tensionar o equilíbrio com as liberdades individuais.