Pesquisas recentes da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) e da Serasa, publicadas em 23 de março de 2025, apontam que as mulheres brasileiras continuam enfrentando níveis mais elevados de endividamento em comparação aos homens. Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) da CNC, em fevereiro de 2025, 76,9% das mulheres estavam endividadas, contra 76% dos homens, uma diferença que, embora tenha diminuído em relação aos 1,6 ponto percentual de 2024 (78,8% para mulheres e 77,2% para homens), ainda reflete uma desigualdade persistente. O levantamento da Serasa complementa esses dados, destacando que 93% das mulheres contribuem financeiramente para as despesas familiares, sendo as únicas responsáveis em 33% dos lares — percentual que sobe para 43% nas classes D e E.
A dupla jornada de trabalho é um fator central nesse cenário. A pesquisa da Serasa revelou que 90% das mulheres entrevistadas conciliam atividades remuneradas com tarefas domésticas, o que pressiona suas finanças. Tamires Castro, especialista da Serasa, observou que “as mulheres seguram a casa sozinhas, têm dupla jornada e, mesmo com todas as despesas do dia a dia, se preocupam em não ficar com dívidas”. Os principais desafios financeiros apontados foram a dificuldade de acesso a crédito (47%) e o próprio endividamento (31%), com 85% das mulheres relatando já terem tido pedidos de crédito negados. Nos últimos 12 meses, 26% delas buscaram crédito para despesas inesperadas e 22% para quitar cartões de crédito.
Apesar do maior endividamento, as mulheres mostram maior empenho em administrar suas finanças. Felipe Tavares, da CNC, destacou que “mesmo antes, quando tinham menos independência financeira, elas já tinham um papel ativo na gestão do orçamento familiar”, sugerindo que esse cuidado persiste mesmo em condições adversas. A pesquisa da Serasa indica que 86% das mulheres endividadas têm débitos no cartão de crédito, 19% em carnês de lojas e uma parcela significativa recorre a empréstimos consignados — modalidades menos comuns entre homens, que lideram em dívidas como cheque especial e financiamentos de imóveis ou carros.
O cenário é agravado por desigualdades estruturais, como a diferença salarial entre gêneros, que, embora tenha diminuído ao longo do tempo, ainda impacta a capacidade feminina de lidar com dívidas. A maior presença das mulheres como chefes de família de baixa renda, especialmente nas camadas mais pobres, reforça a vulnerabilidade financeira desse grupo, enquanto sua determinação em quitar débitos evidencia um esforço para manter a estabilidade doméstica em um contexto de desafios econômicos e sociais.