Em meados de fevereiro de 2025, um pesquisador sul-africano da equipe científica da base SANAE IV, na Antártica, foi acusado por colegas de cometer agressões físicas e sexuais contra membros da equipe, composta por dez pessoas. As denúncias vieram à tona após um e-mail enviado por um integrante do grupo ao jornal Sunday Times, da África do Sul, relatando um ambiente de medo e insegurança na estação, localizada a mais de 4.000 quilômetros da Cidade do Cabo. Isolados pelas condições climáticas extremas do inverno antártico, que começou em março e se estende até dezembro, o time não terá possibilidade de resgate por pelo menos 10 a 15 meses, até que o navio SA Agulhas II retorne para a troca da equipe.
O caso foi desencadeado por um incidente em 27 de fevereiro, quando o acusado, cuja identidade não foi revelada, teria agredido fisicamente o líder da expedição, Mbulaheni Kelcey Maewashe, durante uma disputa sobre a reorganização de uma tarefa dependente do clima. O e-mail, tornado público em 16 de março, também alegava ameaças de morte e comportamento “egregioso”, com um pesquisador afirmando temer pela própria segurança e a de outros colegas. Inicialmente, reportagens mencionaram uma acusação de assédio sexual, mas o Departamento de Florestas, Pesca e Meio Ambiente da África do Sul (DFFE) esclareceu em 19 de março que essa alegação foi investigada e considerada incorreta, mantendo o foco na agressão física confirmada.
A base SANAE IV, situada em Queen Maud Land, abriga uma equipe reduzida que inclui um médico, engenheiros, técnicos e cientistas, todos submetidos a rigorosos testes psicológicos antes da missão para suportar o isolamento prolongado e as temperaturas que podem chegar a -30°C. Apesar disso, o DFFE reconheceu que ajustes ao ambiente extremo são comuns e que o incidente reflete tensões agravadas pela convivência forçada. O acusado foi colocado sob avaliação psicológica remota, expressou remorso e escreveu uma carta formal de desculpas à vítima, enquanto o departamento ativou um processo de mediação com psicólogos em contato constante com a equipe.
A situação expõe os desafios de gerenciar crises em locais remotos como a Antártica, onde o acesso é limitado pela temporada de inverno. As bases mais próximas, como a alemã Neumayer III (220 quilômetros ao noroeste) e a norueguesa Troll (190 quilômetros ao sudeste), poderiam oferecer apoio em uma evacuação emergencial, mas as condições climáticas tornam essa opção arriscada e cara. O caso também reacende discussões sobre a saúde mental em missões prolongadas, com especialistas como Craig Jackson, da Birmingham City University, apontando que pequenos conflitos podem escalar rapidamente em ambientes isolados. A investigação segue em andamento, com o DFFE prometendo ações conforme os resultados, enquanto a equipe permanece unida em um cenário de incerteza até o fim do ano.