A marca holandesa de moda modesta Merrachi, fundada pela maroco-holandesa Nada Merrachi em 2020, desencadeou uma onda de críticas na França ao divulgar, em 10 de março de 2025, uma campanha publicitária no TikTok que mostra a Torre Eiffel coberta por um hijab e uma abaya. A animação em 3D, acompanhada do texto “O governo francês odeia ver Merrachi chegar” e da legenda “Vocês se lembram quando eles baniram o hijab?”, faz alusão à abertura de uma loja pop-up no bairro do Marais, em Paris, entre 22 e 30 de março — período que coincide com a última semana do Ramadã. A Merrachi, que até então operava na França apenas online, além de uma loja física em Amsterdã, apresentou a campanha como uma celebração da “moda modesta” e da inclusão, mas muitos a interpretaram como uma provocação cultural.
Ver no Threads
A reação na França foi imediata e dividida. Políticos da direita, como Lisette Pollet, deputada do Rassemblement National (RN), classificaram o vídeo como “inaceitável”, afirmando que “a Torre Eiffel, símbolo da França, foi sequestrada pela Merrachi, que a cobre com um véu islâmico em uma publicidade provocadora”. Jerome Buisson, também do RN, chamou a ação de “projeto político aterrorizante”, enquanto o economista Philippe Murer, do Mouvement Politique Citoyen, exigiu a proibição das lojas da marca e o bloqueio de seu site no país, argumentando que “é preciso ser implacável para se fazer respeitar”. Esses críticos veem o anúncio como um ataque aos valores republicanos e à laïcité, o princípio francês de secularismo que restringe símbolos religiosos em espaços públicos.
Contudo, a escolha da Torre Eiffel, um ícone nacional, intensificou as acusações de “islamização” da cultura francesa por parte de seus detratores. O governo francês ainda não se pronunciou oficialmente, mas a controvérsia coloca em xeque o equilíbrio entre liberdade de expressão comercial e a proteção da identidade nacional em um país historicamente marcado por disputas sobre secularismo e diversidade.