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O Declínio do Patrimônio Religioso na França

Na França, um fenômeno silencioso, mas alarmante, vem moldando o cenário cultural e religioso do país: a cada duas semanas, uma igreja desaparece. Seja por demolição, transformação em outros tipos de construções, incêndios ou simples abandono, esses templos, que por séculos foram pilares da identidade francesa, estão se esvaindo diante de uma sociedade cada vez mais secularizada. O Observatoire du Patrimoine Religieux de Paris aponta que cerca de 5 mil igrejas podem estar em risco de sumir até 2030, um reflexo não apenas da deterioração física, mas também da falta de interesse em preservar um legado que, para muitos, ainda respira a essência da nação.

O ritmo de perda é impressionante. Dados recentes mostram que, em média, mil ataques anticristãos ocorrem por ano no país, incluindo atos de vandalismo como destruição de estátuas, roubos de objetos sagrados e até incêndios criminosos. Em 2024, quase 50 igrejas foram alvos de tentativas de fogo intencional, um aumento de 30% em relação ao ano anterior. Esse cenário é agravado pela negligência: dos 40 mil edifícios religiosos sob responsabilidade dos municípios, pelo menos 1.600 estão fechados devido ao estado precário, resultado de anos sem manutenção. Stéphane Bern, renomado defensor do patrimônio francês, já alertou que a descristianização crescente leva a um abandono prático — igrejas vazias não atraem fiéis nem recursos para sua conservação.

Não se trata apenas de pedra e argamassa. A França, historicamente conhecida como a “filha mais velha da Igreja”, vê nesse processo uma erosão de sua memória coletiva. As igrejas, muitas vezes os primeiros pontos visitados em cidades e vilarejos, carregam séculos de arte, história e tradição. Contudo, a resposta a essa crise tem sido tímida. Autoridades locais, por vezes, optam por não restaurar símbolos como as cruzes nos cumes dos Pirineus, derrubadas em ataques entre 2015 e 2019, justificando os custos elevados frente ao vandalismo recorrente. Em 2019, o Conselho Departamental dos Pirineus Orientais desistiu de substituí-las, marcando uma rendição simbólica.

Por outro lado, o aumento da violência contra locais cristãos não é um fato isolado. Relatórios da inteligência francesa de 2024 destacam uma escalada da cristianofobia, com táticas que evoluem em sofisticação. Enquanto isso, a secularização avança, e a frequência às missas diminui, deixando os templos vulneráveis. Para observadores atentos, há um toque de ironia: um país que já foi palco de revoluções em nome da liberdade hoje assiste passivamente à perda de um patrimônio que, para além da fé, representa suas raízes. A questão que paira é se a França, ao negligenciar suas igrejas, não está também abrindo mão de uma parte de si mesma.

Gustavo De Oliveira

Escritor

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