O Secretário-Geral da OTAN, Mark Rutte, confirmou em 14 de março de 2025 que a adesão da Ucrânia à aliança militar não está mais em consideração, marcando uma mudança significativa na postura da organização. Durante uma entrevista à Bloomberg, Rutte afirmou que a questão “não está mais na agenda”, respondendo a especulações sobre a influência do presidente dos EUA, Donald Trump, em retirar o tema das negociações. Essa declaração alinha-se com comentários anteriores do Secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, e reflete uma posição mais cautelosa da OTAN em relação à expansão, especialmente no contexto da guerra em curso com a Rússia.
Rutte já havia indicado em fevereiro de 2025, durante a Conferência de Segurança de Munique, que a adesão da Ucrânia nunca foi prometida como parte de um acordo de paz, contrariando expectativas criadas pela Declaração de Bucareste de 2008, que afirmava que a Ucrânia e a Geórgia eventualmente se tornariam membros. Ele enfatizou que, embora a OTAN tenha reiterado em 2024 que o caminho da Ucrânia para a adesão seria “irreversível”, as condições para isso — como o fim da guerra e reformas internas — não foram atendidas. Em vez disso, Rutte sugeriu que as melhores garantias de segurança para a Ucrânia no momento são o fornecimento de armas e acordos bilaterais com países da OTAN, em vez de uma integração formal.
A decisão ocorre em meio a negociações de cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia, com a mediação dos EUA, e reflete preocupações práticas dentro da aliança. A entrada da Ucrânia na OTAN durante o conflito poderia ser interpretada como uma escalada, comprometendo todos os membros a defender o país sob o Artigo 5 do tratado, o que potências como os EUA e a Alemanha hesitam em aceitar. Além disso, a mudança na postura de Trump, que busca um papel de mediador e tem pressionado por um acordo rápido, parece ter influenciado a OTAN a priorizar a estabilidade em vez da expansão.
Embora a OTAN tenha intensificado o apoio militar à Ucrânia, com mais de 99% da ajuda militar desde 2022, a exclusão da adesão imediata pode ser vista como uma concessão às demandas russas, que há anos se opõem à expansão da OTAN para o leste. Isso também levanta questões sobre a credibilidade das promessas da aliança, especialmente após a Ucrânia ter aberto mão de seu arsenal nuclear em 1994, com base no Memorando de Budapeste, que incluía garantias de segurança de potências como a Rússia e os EUA. A posição de Rutte, embora pragmática, pode minar a confiança de Kiev na OTAN como um escudo contra futuras agressões russas, especialmente em um momento em que as forças de Putin continuam avançando no leste ucraniano.
Por outro lado, a narrativa oficial da OTAN pode estar escondendo interesses estratégicos maiores. A relutância em aceitar a Ucrânia pode ser uma tentativa de evitar um confronto direto com a Rússia, que já demonstrou disposição para escalar o conflito, como visto na recente mobilização de tropas norte-coreanas na região de Kursk. Além disso, a influência de Trump, que historicamente questionou o valor da OTAN e agora busca normalizar relações com Moscou — como Rutte também sugeriu ser possível no futuro —, pode estar moldando a direção da aliança mais do que a própria situação na Ucrânia. Essa mudança de prioridades expõe as tensões internas na OTAN e levanta dúvidas sobre sua coesão em um momento de reconfiguração geopolítica global.