Na tarde de sábado, 15 de março de 2025, Belgrado, capital da Sérvia, foi palco de um dos maiores protestos da história do país, reunindo centenas de milhares de estudantes e apoiadores, incluindo veteranos de guerra, que exigem a renúncia do presidente Aleksandar Vučić devido a denúncias de corrupção generalizada. O movimento, que começou após o desabamento do teto de uma estação ferroviária em Novi Sad em 1º de novembro de 2024, que matou 15 pessoas, ganhou força nas últimas semanas, transformando-se em uma mobilização nacional contra o governo. Estimativas independentes sugerem que entre 275 mil e 325 mil pessoas participaram, superando os 107 mil registrados oficialmente pelo governo, tornando o evento um marco de contestação.
Os protestos foram inicialmente liderados por estudantes universitários, que denunciam negligência e corrupção na reforma da estação de Novi Sad, um projeto supervisionado pelo governo de Vučić. A revolta se ampliou com a adesão de veteranos de guerra, muitos dos quais lutaram nas guerras dos anos 1990, incluindo os conflitos na Bósnia e no Kosovo, onde enfrentaram tanto a OTAN quanto grupos que o governo sérvio classifica como “terroristas islâmicos”. Esses veteranos, que se apresentaram como guardiões da soberania sérvia, marcharam ao lado dos estudantes, carregando bandeiras nacionais e recebendo aplausos da multidão, simbolizando uma união entre gerações em busca de mudança. A presença deles adicionou um peso simbólico ao protesto, reforçando a narrativa de que o governo traiu os valores pelos quais lutaram.
Os manifestantes realizaram um silêncio de 15 minutos em homenagem às vítimas do desabamento, seguido por gritos de “A corrupção mata” e exigências de transparência total sobre os documentos da obra, além da responsabilização dos culpados. Apesar das renúncias do primeiro-ministro Milos Vucevic e de dois ministros, os estudantes rejeitam essas medidas como insuficientes, insistindo que apenas a saída de Vučić atenderá às suas demandas. A tensão aumentou com a presença de apoiadores do presidente, incluindo ex-paramilitares e hooligans, que montaram acampamentos em frente à sede do governo, criando um clima de confronto potencial. Vučić, por sua vez, acusou os protestos de serem orquestrados por serviços secretos ocidentais e prometeu manter a ordem, com a polícia detendo 22 pessoas por supostos atos de violência.
Embora a narrativa oficial do governo atribua os protestos a influências externas, a mobilização espontânea, com estudantes caminhando centenas de quilômetros de cidades como Novi Sad e Kragujevac até Belgrado, sugere um descontentamento interno genuíno. A inclusão de veteranos, que evocam a resistência contra a OTAN e grupos extremistas, pode ser vista como uma tentativa de legitimar o movimento com apelo nacionalista, mas também levanta questões sobre a politização de suas motivações. A falta de provas concretas sobre corrupção sistêmica nos documentos liberados pelo governo alimenta o ceticismo público, enquanto a resposta de Vučić, que combina concessões com ameaças, indica uma postura defensiva diante de um desafio sem precedentes ao seu controle de mais de uma década. O desfecho desse movimento, ainda em curso, dependerá de como as autoridades equilibrarão repressão e diálogo em um momento de alta polarização.
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Impactos dos protestos
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