O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, mudou significativamente sua narrativa sobre a suposta trama golpista em uma audiência conduzida pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), no dia 21 de novembro de 2024. A sessão, que teve seus vídeos e áudios tornados públicos em 20 de fevereiro de 2025, revelou um momento de tensão no qual Moraes alertou Cid sobre as consequências de não cumprir os termos de sua delação premiada, incluindo a possibilidade de prisão e a extensão das investigações aos seus familiares.
Inicialmente, Cid havia apresentado versões que minimizavam sua participação e a de outros militares em planos para subverter o resultado das eleições de 2022. Contudo, diante da pressão do ministro e de evidências levantadas pela Polícia Federal (PF) que contradiziam seus depoimentos anteriores, ele passou a detalhar encontros e ações que sugerem uma conspiração coordenada contra o governo eleito. Um dos pontos mais graves foi a menção ao plano “Punhal Verde Amarelo”, que, segundo a PF, previa o assassinato de figuras como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice Geraldo Alckmin e o próprio Moraes.
Entre as revelações, Cid admitiu que uma reunião na casa do general Walter Braga Netto, então candidato a vice de Bolsonaro, em 12 de novembro de 2022, discutiu estratégias para gerar “caos social” e justificar uma intervenção militar. Antes, ele alegava ter deixado o local por compromissos no Palácio do Alvorada, mas, na audiência, confessou que foi Braga Netto quem o afastou ao perceber que a conversa tomava rumos conspiratórios. Outro ponto alterado foi sobre mensagens pedindo R$ 100 mil no fim de 2022: se antes ele descrevia como algo “quase brincadeira” para mobilizar acampamentos, passou a sugerir que o valor poderia estar ligado a ações contra Moraes, como sua prisão ou execução.
Para os conservadores, o episodio levanta sérias dúvidas sobre a imparcialidade do Judiciário e a legitimidade das provas obtidas sob pressão. A postura de Moraes, que abriu a audiência com um tom direto — “Vamos começar de forma bem direta, o que caracteriza meu estilo” — e deu a Cid uma “última chance” para falar a verdade, é vista como uma tentativa de moldar a narrativa contra Bolsonaro e seus aliados. A delação de Cid, agora pública, tornou-se peça-chave na denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o ex-presidente por crimes como tentativa de golpe de Estado.