O estado de Mato Grosso do Sul, através de sua Secretaria de Estado de Saúde (SES), implementou uma série de ações de combate ao HIV em 2024, que merecem uma análise criteriosa, sobretudo no que tange ao investimento público e à eficácia dessas medidas. Entre os principais números alardeados estão a distribuição de mais de 2,3 milhões de preservativos externos, 40 mil preservativos internos e 120 mil testes rápidos para HIV, além de uma série de iniciativas voltadas para a prevenção e diagnóstico precoce da doença.
O Governo e seu foco em distribuição de preservativos: uma análise crítica
A SES distribuiu milhões de preservativos, o que pode parecer, à primeira vista, um esforço significativo para combater a proliferação do HIV. No entanto, é necessário questionar o impacto real de uma política voltada principalmente para a distribuição de camisinhas, especialmente em um país onde a responsabilidade individual deveria ser incentivada como primeiro passo na prevenção.
É fácil investir em números astronômicos para gerar manchetes e aparentar comprometimento com a saúde pública. Mas, será que a verdadeira solução está apenas na quantidade de preservativos distribuídos? Ou deveríamos focar mais em políticas que promovam a responsabilidade pessoal e a conscientização sobre a importância do comportamento sexual responsável?
A fórmula infantil como paliativo da transmissão vertical
Outro dado interessante é o fornecimento de 4 mil latas de fórmula infantil para crianças expostas ao HIV. A ação, parte do combate à transmissão vertical (quando a mãe transmite o HIV para o bebê durante a gestação ou amamentação), levanta uma questão fundamental: até que ponto o governo está focado em atacar a causa raiz desse problema?
As gestantes com HIV precisam, antes de tudo, de suporte adequado e acesso a medicamentos que impeçam essa transmissão. No entanto, focar apenas em fornecer fórmulas infantis pode desviar a atenção da urgência de políticas preventivas realmente eficazes. Afinal, enquanto se foca no paliativo, pouco é falado sobre a educação sexual familiar e o fortalecimento dos laços sociais que evitariam a transmissão em primeiro lugar.
A crescente dependência de políticas públicas no tratamento do HIV
Com cerca de 10.936 pessoas vivendo com HIV em Mato Grosso do Sul atualmente em tratamento pela SES, é evidente que o sistema público de saúde tem cada vez mais se tornado uma espécie de muleta para muitos que, de outra forma, deveriam ser incentivados a ter mais responsabilidade pessoal em relação à sua própria saúde.
Danielle Tebet, Coordenadora de Vigilância Epidemiológica da SES, afirmou que o governo tem investido “não apenas em insumos, mas também em conscientização, acesso e dignidade”. No entanto, é válido questionar até que ponto essas iniciativas de conscientização são eficazes ou apenas mais um gasto público que serve para legitimar políticas fracassadas.
A questão é: até que ponto estamos dispostos a permitir que o Estado assuma o papel de provedor universal de saúde e bem-estar, enquanto a verdadeira solução poderia estar em um maior incentivo à responsabilidade individual e à educação sexual responsável?
Indetectável é intransmissível: uma narrativa conveniente
Uma das bandeiras mais levantadas pelo governo é o conceito de “indetectável = intransmissível”. De acordo com o Ministério da Saúde, pessoas vivendo com HIV que estão em tratamento antirretroviral e têm carga viral indetectável não transmitem o vírus por via sexual. Aparentemente, a estratégia de divulgar essa narrativa é uma tentativa de suavizar a gravidade da epidemia e, ao mesmo tempo, justificar os recursos massivos investidos na saúde pública para tratamento contínuo de milhares de pessoas.
O balanço do Sinan (Sistema de Informação de Agravos e Notificação) revelou que, em 2024, 628 novos casos de HIV foram registrados em Mato Grosso do Sul, e desses, 321 casos evoluíram para Aids. Isso nos leva a outra reflexão: o aumento dos casos e as mortes registradas (157 em 2024) indicam que, embora o tratamento possa controlar o vírus, ele não resolve a questão central: a transmissão continua e o sistema de saúde pública segue sobrecarregado.
Por que a ênfase em políticas públicas e não em responsabilidade pessoal?
Os dados são claros: as políticas públicas estão falhando em conter efetivamente o avanço da doença. A cada ano, mais recursos são alocados para programas que tratam, mas não previnem. Programas como PEP (profilaxia pós-exposição) e PrEP (profilaxia pré-exposição) são altamente promovidos pelo governo, mas será que não estão incentivando comportamentos de risco, ao invés de promoverem uma conscientização mais profunda e uma mudança de mentalidade?
O setor de Vigilância Epidemiológica da SES defende que o “tratamento oportuno e o combate ao estigma” são fundamentais. No entanto, ao enfatizar tanto o papel do governo na vida dos cidadãos, será que não estamos alimentando uma cultura de dependência? A verdadeira solução pode estar em empoderar as pessoas a cuidarem de sua própria saúde e adotarem hábitos responsáveis.
Aids não é sentença de morte, mas ainda é uma realidade ignorada
Enquanto os números mostram uma ênfase no tratamento e no controle do HIV, pouco se discute sobre como a sociedade pode assumir uma postura mais proativa no combate ao vírus. A Aids, causada pelo HIV, continua sendo uma doença grave, e a dependência de tratamentos contínuos gera uma carga imensa sobre o sistema de saúde. Embora o tratamento antirretroviral torne o vírus indetectável e, portanto, intransmissível, essa não deveria ser a única estratégia.