Caminhada “Passos pela Vida” mobiliza famílias de MS em apoio à doação de órgãos

No último domingo (15), a Avenida do Poeta, no Parque dos Poderes em Campo Grande, foi palco da 1ª caminhada “Passos pela Vida”, uma ação inédita para conscientizar a população sobre a importância da doação de órgãos e córneas. Organizada pela Secretaria de Estado de Saúde (SES) e Secretaria de Estado de Turismo, Esporte e Cultura (Setesc), o evento reuniu centenas de pessoas com o objetivo de encorajar famílias a dizerem “sim” à doação.

Desafios na doação de órgãos: o “não” das famílias

O maior obstáculo para aumentar o número de doadores ainda é a autorização das famílias dos possíveis doadores. De acordo com Claire Miozzo, coordenadora da Central Estadual de Transplantes (CET/MS), 70% das famílias consultadas no Estado negam a doação, muitas vezes porque não conhecem a vontade da pessoa falecida.

“É fundamental que as pessoas conversem com suas famílias sobre o desejo de serem doadoras. No momento de luto, se a família desconhece essa vontade, a tendência é recusar,” explica Miozzo.

Histórias de solidariedade e gratidão

A caminhada foi marcada por depoimentos emocionantes de quem vivenciou de perto o impacto da doação de órgãos. A professora aposentada Maria Munhoz, que perdeu o marido recentemente, compartilhou a decisão de sua família em ser doadora. “Nós acreditamos em dar vida a outra vida. Já conversamos sobre isso, e todos aqui estamos prontos para doar,” afirmou.

Outro exemplo foi o de Carlos Alberto Rezende, mais conhecido como professor Carlão, que passou por um transplante de medula óssea e fundou o Instituto Sangue Bom, uma referência na luta pela conscientização sobre doações. Rezende lembrou que, após receber a maior doação de sangue da história de Mato Grosso do Sul, sentiu-se obrigado a retribuir de alguma forma. “Acredito que a solidariedade é o antídoto contra o individualismo e a indiferença que vemos hoje,” disse ele.

Impacto da doação: vidas transformadas

Entre as participantes da caminhada estava Josiane Pereira Lima, fisioterapeuta que passou por três transplantes de córnea e agora aguarda o quarto. Diagnosticada com ceratocone aos quatro anos, Josiane destacou o impacto que a doação teve em sua vida e como isso a permitiu continuar trabalhando e ajudando outras pessoas. “Se não fosse pela doação, eu não estaria aqui ajudando pacientes. Doar é dar uma nova oportunidade de vida,” enfatizou.

Mobilização e parcerias

O evento foi uma verdadeira corrente de solidariedade, com a participação de hospitais públicos e privados, planos de saúde, clínicas e laboratórios. Super-heróis da Liga do Bem e o atleta paralímpico Yeltsin Jacques, vencedor de quatro medalhas, também marcaram presença, reforçando a importância do gesto altruísta.

Segundo o secretário da Setesc, Marcelo Miranda, a utilização de eventos esportivos e culturais para debater temas importantes como a doação de órgãos é uma estratégia eficiente. “Essas ações fazem a diferença na vida de milhares de pessoas e ajudam a criar uma conscientização essencial para salvar vidas,” declarou.

Números e desafios

Atualmente, cerca de 60 mil pessoas aguardam um transplante no Brasil, e em Mato Grosso do Sul, os números não são menos alarmantes: 415 pessoas esperam por uma córnea, 207 por um rim e 14 por um fígado. Em agosto, a Central Estadual de Transplantes de MS completou 25 anos, contabilizando importantes avanços, como 19 transplantes de coração e mais de 3.800 de córnea.

Conclusão

A caminhada “Passos pela Vida” mostrou que, por meio de solidariedade e conscientização, é possível transformar vidas. Cada “sim” para a doação de órgãos é um passo em direção à esperança para milhares de pacientes que aguardam uma nova chance de viver.

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