China e Brasil Avançam com Plano de Paz na Ucrânia, Apesar da Resistência de Zelenskiy

Lula e Xi Jinping em Pequim. (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

Resumo do Cenário: A Iniciativa Sino-Brasileira em Foco

Em meio às tensões crescentes entre Rússia e Ucrânia, China e Brasil continuam a pressionar por uma solução pacífica que envolva países em desenvolvimento. Ignorando as críticas do presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy, que acusou a proposta de beneficiar Moscou, as duas nações realizaram um encontro às margens da Assembleia Geral das Nações Unidas para discutir um caminho alternativo para o fim do conflito.

O encontro, que reuniu 17 países, foi presidido pelo ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, e pelo conselheiro de política externa do Brasil, Celso Amorim. A proposta sino-brasileira destaca a necessidade de prevenir a escalada do conflito, evitar o uso de armas de destruição em massa e proteger as usinas nucleares na região de guerra.

O Papel Crucial da China: Neutralidade ou Apoio Velado?

Wang Yi enfatizou que a relação de vizinhança entre Rússia e Ucrânia é inegável e que a única solução realista seria o restabelecimento da amizade entre os dois países. Nesse sentido, ele destacou a importância de uma conferência de paz que envolva diretamente Rússia e Ucrânia, com o apoio da comunidade internacional.

Contudo, a posição da China gera desconfiança no Ocidente. Enquanto o governo chinês se declara a favor de uma solução pacífica, autoridades dos EUA, como o Secretário de Estado Antony Blinken, levantam sérias preocupações sobre o apoio indireto da China à Rússia. Blinken acusou empresas chinesas de contribuir para o esforço de guerra de Moscou, apesar das declarações pacificadoras do governo chinês.

Essas alegações colocam em evidência um ponto-chave: a hipocrisia da narrativa globalista. O Ocidente, especialmente sob a liderança dos EUA, continua a atacar verbalmente a China enquanto ignora as ações diretas da própria Ucrânia e seus aliados. A pergunta que não quer calar é: quem realmente tem interesse em prolongar essa guerra?

O Envolvimento do Brasil: Um Jogo de Equilíbrio Geopolítico

O Brasil, sob a liderança de Lula, tenta se posicionar como um mediador neutro entre os blocos de poder. A presença de Celso Amorim na reunião reflete o desejo brasileiro de se afirmar como um ator de destaque na busca por uma solução diplomática. Em um comunicado, Amorim afirmou que o grupo de 17 países continuará a se reunir em Nova York, sob a denominação de “amigos pela paz”, para explorar alternativas de resolução.

Apesar da crítica de Zelenskiy sobre a proposta sino-brasileira, Amorim foi claro ao afirmar que sua intenção não é responder diretamente ao presidente ucraniano ou ao russo, Vladimir Putin, mas sim propor um caminho para a paz. Essa postura do Brasil é vista como um movimento estratégico, mantendo o país distante da polarização extrema do conflito, ao mesmo tempo em que assegura uma posição relevante no cenário global.

Aqui, é importante notar o contraste entre a visão do governo brasileiro, que muitas vezes vê o Brasil como um aliado natural do Ocidente, e não de nações como China e Rússia. No entanto, para o governo atual, a neutralidade e o diálogo parecem ser os pilares de sua política externa, o que gera certo desconforto para aqueles que preferem uma postura mais assertiva em defesa dos interesses ocidentais.

O Sul Global e o Papel da Multipolaridade

Além de Brasil e China, outros países do Sul Global, como Indonésia, África do Sul e Turquia, também participaram da reunião e assinaram um comunicado conjunto. A proposta apresentada pelo Brasil e pela China, que se baseia em um plano de seis pontos divulgado em maio deste ano, visa consolidar uma resposta unificada das nações em desenvolvimento, que buscam alternativas para encerrar o conflito.

Esse movimento reflete a crescente importância da multipolaridade no cenário internacional, com países do Sul Global tentando escapar da hegemonia ocidental e criar suas próprias soluções para conflitos globais. Essa mudança, contudo, é vista com ceticismo por líderes como Zelenskiy, que enxergam nessas iniciativas uma forma de dar mais espaço político para Moscou continuar a guerra.

Essa nova configuração multipolar levanta sérias questões. Ao promover a neutralidade e o diálogo, essas nações estariam, na prática, fortalecendo regimes autoritários e enfraquecendo a posição ocidental no conflito? A proposta de “amigos pela paz” pode ser vista como um desafio direto à ordem mundial liderada pelos EUA e seus aliados europeus.

Conclusão: O Caminho da Paz ou da Indefinição?

Enquanto Zelenskiy critica qualquer tentativa de negociação que não siga sua fórmula de paz, China e Brasil continuam a avançar com sua proposta de mediação, reunindo apoio de países do Sul Global. A questão que permanece é se essa iniciativa trará um fim ao conflito ou se apenas prolongará a guerra, dando mais espaço para que Moscou mantenha suas ações.

É importante questionar se o Brasil, ao lado da China, realmente está contribuindo para a paz ou apenas mantendo uma posição de indecisão estratégica. O que parece claro é que, neste novo cenário global, os atores estão cada vez mais se distanciando das antigas alianças, buscando novas formas de influência e poder.

No fim, a pergunta central é: quem realmente se beneficiará dessa diplomacia do Sul Global? A resposta pode ser desconfortável, já que os interesses de longo prazo do Ocidente podem estar sendo minados por essas negociações multilaterais que favorecem o equilíbrio de forças entre blocos.

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