Uma dona de casa de São Paulo tornou-se alvo de uma investigação da Polícia Federal (PF) após gritar “Lula ladrão” com um megafone em frente à residência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no bairro Alto de Pinheiros, zona oeste da capital, em 8 de abril de 2025. O caso, que veio à tona após o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, determinar a abertura de um inquérito por possível crime contra a honra, tem gerado intensas discussões sobre os limites da liberdade de expressão no Brasil. A mulher, que agiu espontaneamente e expressou publicamente sua opinião, levanta questões sobre o direito dos cidadãos de manifestarem críticas a autoridades públicas, especialmente em um contexto de crescente polarização política. A ação da PF, embora respaldada por lei, reacende preocupações com a possibilidade de uso das instituições para silenciar vozes dissidentes, um tema sensível para quem valoriza a liberdade individual e a responsabilidade cívica.
De acordo com relatos da PF, a mulher, identificada como dona de casa, passou de carro pela residência de Lula e usou um megafone para proferir a frase, que foi ouvida por pessoas próximas, incluindo dois agentes de segurança que acompanhavam o presidente. Após o incidente, os policiais fotografaram a placa do veículo e, posteriormente, visitaram a residência da mulher para colher seu depoimento. Em sua declaração, ela afirmou ter agido por “impulso irracional”, movida pelo “calor do momento”, e expressou profundo arrependimento, alegando não imaginar que sua atitude resultaria em consequências legais. A investigação, solicitada por Lewandowski em 3 de junho de 2025, pode enquadrá-la em crimes contra a honra, como calúnia, difamação ou injúria, previstos no Código Penal Brasileiro, com penas que variam de três meses a um ano de detenção, podendo chegar a quatro anos quando a ofensa é dirigida ao presidente da República.
A decisão de investigar a mulher, embora amparada pelo artigo 140 do Código Penal, que define injúria como ofensa à honra de alguém, tem sido criticada por setores da sociedade que veem na medida uma tentativa de intimidação. A dona de casa, ao expressar sua opinião, ecoou um sentimento presente em parte da população, que associa Lula a escândalos de corrupção do passado, como os investigados na Operação Lava Jato. Embora o presidente tenha tido suas condenações anuladas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2021 por questões processuais, muitos brasileiros ainda questionam sua conduta, considerando-a uma crítica legítima no âmbito do debate público. A liberdade de expressão, garantida pelo artigo 5º da Constituição Federal, é um pilar essencial da democracia, e ações como a da dona de casa, ainda que contundentes, refletem o exercício de um direito fundamental de manifestar descontentamento com líderes políticos.
Casos semelhantes têm ocorrido com frequência. Em abril de 2025, um homem foi detido em Campos dos Goytacazes (RJ) por chamar Lula de “ladrão” durante a passagem de seu comboio, sendo liberado após prestar depoimento. Em setembro de 2024, seis integrantes do Movimento Brasil Livre (MBL) também foram investigados por gritar “Lula, ladrão, seu lugar é na prisão” durante um evento na Unifesp, em Osasco. Essas investigações, todas iniciadas a pedido de Lewandowski, sugerem um padrão de resposta rápida do governo a críticas públicas, o que preocupa defensores da liberdade de expressão. O senador Sergio Moro (União-PR), ex-juiz da Lava Jato, criticou a ação, afirmando que a ordem de Lewandowski demonstra “o desejo do governo de calar o cidadão comum e de usar a PF como polícia política”. Para muitos, a investigação de uma dona de casa por um ato isolado reforça a percepção de que o Estado está mais empenhado em proteger a imagem de autoridades do que em garantir o direito de manifestação.
A democracia brasileira, ainda jovem, enfrenta o desafio de equilibrar a proteção da honra de figuras públicas com a preservação da liberdade de expressão. A dona de casa, ao gritar sua crítica, não ameaçou fisicamente o presidente nem incitou violência, mas expressou uma opinião que, embora ofensiva para alguns, reflete um sentimento presente em parte da sociedade. A mobilização da PF para investigar o caso, em vez de priorizar crimes mais graves, como corrupção ou violência urbana, levanta questionamentos sobre o uso proporcional dos recursos estatais. O direito de criticar governantes, mesmo de forma veemente, é um alicerce de sociedades livres, e medidas que possam ser interpretadas como censura tendem a enfraquecer a confiança nas instituições. A história dessa mulher, que agora enfrenta a possibilidade de punição por um ato impulsivo, destaca a importância de proteger a voz dos cidadãos, especialmente quando expressam verdades incômodas em um cenário político tão dividido.