O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou em 15 de maio de 2025, durante um fórum de negócios em Doha, no Qatar, que a Índia ofereceu um acordo comercial que eliminaria “literalmente todas as tarifas” sobre bens americanos. A declaração, feita em meio a negociações para reduzir o déficit comercial de US$ 45,7 bilhões dos EUA com a Índia, gerou otimismo nos mercados, com os índices de ações indianos subindo 1,5% para o maior nível em sete meses, segundo a Reuters.
No entanto, o ministro das Relações Exteriores da Índia, S. Jaishankar, rapidamente refutou a afirmação, destacando que as negociações estão “em andamento” e que “nada está decidido até que tudo esteja”, conforme noticiado pela BBC e CNN. A controvérsia reflete a complexidade das relações comerciais bilaterais e a prioridade de ambos os países em proteger interesses econômicos, enquanto reforça a importância de acordos que promovam equilíbrio e segurança no comércio global.
As negociações entre os dois países, que movimentaram US$ 129 bilhões em comércio bilateral em 2024, intensificaram-se após Trump anunciar, em abril de 2025, uma pausa de 90 dias em tarifas recíprocas, incluindo uma taxa de 26% sobre produtos indianos, conforme a Reuters. A Índia, conhecida por altas barreiras tarifárias — como 70% sobre veículos e até 150% sobre álcool, segundo a NPR —, teria oferecido zerar tarifas em 60% das importações americanas na primeira fase do acordo, com acesso preferencial para 90% dos bens dos EUA, de acordo com fontes do governo indiano citadas pela Reuters. Setores como joias, têxteis, bananas e uvas poderiam se beneficiar de melhores termos comerciais, enquanto a Índia busca isenções para suas exportações de produtos farmacêuticos e autopeças, que enfrentam a tarifa de 26%, conforme a The Hindu.
A proposta indiana, descrita como uma abordagem “zero-por-zero” em setores específicos, exclui áreas sensíveis como agricultura, onde os agricultores temem a concorrência de importações americanas baratas, segundo a Al Jazeera. Trump, que já classificou a Índia como “rei das tarifas”, também criticou a decisão da Apple de expandir a produção de iPhones no país, afirmando que preferiria a manufatura nos EUA. “Eu disse a Tim Cook: ‘Não queremos você construindo na Índia. Queremos produção aqui’”, declarou Trump, conforme a The New York Times. A Índia, por sua vez, tem promovido sua indústria de smartphones, com fornecedores como Foxconn e Tata exportando US$ 2 bilhões em iPhones para os EUA em março de 2025, segundo a ABC News.
Apesar do entusiasmo de Trump, a resposta cautelosa de Jaishankar sublinha que o acordo depende de reciprocidade e benefícios mútuos. O ministro do Comércio indiano, Piyush Goyal, liderou uma delegação a Washington em maio para avançar nas negociações, que abrangem 19 capítulos, incluindo tarifas e barreiras não tarifárias, conforme a The Times of India. A Índia já reduziu tarifas sobre produtos como uísque e motocicletas americanas, mas setores como agricultura permanecem protegidos devido a pressões políticas internas. A oposição indiana, incluindo o Congresso, questionou o silêncio do primeiro-ministro Narendra Modi, exigindo clareza sobre as concessões, segundo a India Today.
A possibilidade de um acordo comercial é vista como estratégica para ambos os lados, mas enfrenta obstáculos. A Índia busca reduzir o diferencial tarifário com os EUA, atualmente em 13%, para menos de 4%, segundo a Reuters, enquanto Trump pressiona por acesso ao mercado indiano, descrito como “muito difícil de penetrar”. A incerteza sobre as tarifas, que expiram em 9 de julho, mantém os mercados em alerta, com temores de impactos econômicos globais, conforme a The Guardian. A postura de Trump reflete sua agenda de reduzir déficits comerciais e fortalecer a manufatura americana, mas a relutância indiana em confirmar o acordo destaca a necessidade de negociações que respeitem a soberania econômica de ambos os países.