Em 18 de abril de 2025, a Casa Branca atualizou seu site oficial com uma seção intitulada “Lab Leak – The True Origins of Covid-19”, promovendo a teoria de que a pandemia de COVID-19 teve origem em um vazamento do Instituto de Virologia de Wuhan (WIV), na China. A página, lançada sob a administração do presidente Donald Trump, acusa o governo anterior de Joe Biden de favorecer a narrativa de uma origem natural do vírus, centrada no mercado de Huanan, em Wuhan. A Casa Branca alega que o SARS-CoV-2 possui características biológicas não encontradas na natureza e aponta que o WIV conduzia pesquisas de “ganho de função” – manipulação genética para aumentar a transmissibilidade de patógenos – em condições de biossegurança inadequadas. O site também critica o infectologista Anthony Fauci, ex-assessor médico de Biden, por supostamente ocultar evidências que contradizem a origem zoonótica.
A Agência Central de Inteligência (CIA) mudou sua posição em 26 de janeiro de 2025, considerando “mais provável” que a pandemia tenha se originado de um vazamento laboratorial, com base em novas análises de inteligência sobre a propagação do vírus, suas propriedades e as condições dos laboratórios em Wuhan. O diretor da CIA, John Ratcliffe, um defensor de longa data dessa teoria, afirmou que a avaliação reflete “inteligência, ciência e bom senso”. No entanto, a agência reconhece que a conclusão tem “baixa confiança” e não apresenta novas evidências concretas, mantendo que a origem natural permanece plausível. O FBI e o Departamento de Energia dos EUA também apoiam a hipótese do vazamento, embora apontem laboratórios diferentes: o FBI foca no WIV, enquanto o Departamento de Energia cita o Centro de Controle de Doenças de Wuhan. Outras cinco agências, incluindo o Conselho Nacional de Inteligência, ainda defendem a origem natural como mais provável.
No Congresso americano, a teoria do vazamento ganhou força desde 2023, com investigações lideradas por republicanos. Um relatório de 2022 do Comitê de Saúde do Senado concluiu que um “incidente relacionado à pesquisa” no WIV era a origem mais provável, com base em documentos internos do laboratório que mencionavam vazamentos de vírus manipulados em 12 de novembro de 2019. Um subcomitê da Câmara dos Representantes, presidido pelo republicano Brad Wenstrup, também apura o financiamento de pesquisas de ganho de função no WIV por meio da EcoHealth Alliance, que recebeu US$ 600 mil do Instituto Nacional de Saúde (NIH) dos EUA entre 2014 e 2019. Esses estudos, que incluíam a criação de vírus quimera mais perigosos, alimentam a suspeita de que o SARS-CoV-2 possa ter sido manipulado geneticamente.
Relatos de que três pesquisadores do WIV adoeceram em novembro de 2019 com sintomas semelhantes aos da COVID-19, conforme divulgado pelo Wall Street Journal em maio de 2021, são frequentemente citados como evidência. Esses casos, que teriam levado à internação, ocorreram semanas antes do primeiro caso oficial reportado pela China em 8 de dezembro de 2019. No entanto, não há confirmação de que os pesquisadores estavam infectados pelo SARS-CoV-2, e o governo chinês nega veementemente essas alegações, chamando-as de “mentiras”.
Por outro lado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a maioria dos cientistas defendem a origem zoonótica como mais provável. Um relatório da OMS de 2021, baseado em visitas a Wuhan, considerou “extremamente improvável” um vazamento laboratorial, embora investigações posteriores, em 2022, tenham sido inconclusivas por falta de cooperação da China. Estudos revisados por pares, como os publicados por pesquisadores chineses em 2023, encontraram material genético de animais selvagens em amostras do mercado de Huanan, reforçando a hipótese de transmissão de morcegos para humanos, possivelmente via pangolins. A sequência genômica do SARS-CoV-2 é 96% semelhante à de um coronavírus de morcego, o que apoia a origem natural, mas a ausência de um hospedeiro intermediário definitivo mantém o debate aberto.
A China rejeita as acusações, argumentando que a politização da questão prejudica a ciência. O Ministério das Relações Exteriores chinês destacou que o WIV, fundado em 1956 e lar do primeiro laboratório de biossegurança nível 4 (P4) do país, opera com rigor e não registrou infecções entre seus funcionários antes de dezembro de 2019. Críticas também apontam para a falta de transparência de Pequim, que limitou o acesso a dados e amostras, dificultando investigações independentes.
O debate sobre a origem da COVID-19 permanece inconclusivo, com implicações geopolíticas significativas. Enquanto a Casa Branca, a CIA e setores do Congresso pressionam pela teoria do vazamento, a comunidade científica enfatiza a necessidade de mais dados para um consenso. A falta de evidências definitivas mantém as duas hipóteses – vazamento laboratorial e origem natural – em disputa, refletindo tanto um desafio científico quanto uma arena de tensões internacionais.