Em um marco significativo, o Departamento de Estado dos Estados Unidos elevou, em 8 de abril de 2025, o alerta de viagem para El Salvador ao Nível 1, a classificação mais segura, que recomenda “exercer precauções normais”. A decisão coloca o país centro-americano à frente de nações europeias como França, Suécia, Reino Unido, Itália, Alemanha e Espanha, todas mantidas no Nível 2, que aconselha “exercer cautela aumentada”. A mudança reflete a redução drástica na violência em El Salvador, impulsionada pelas políticas do presidente Nayib Bukele, mas também levanta debates sobre os métodos empregados e os desafios de segurança enfrentados pela Europa.
O alerta destaca que a atividade de gangues em El Salvador diminuiu significativamente nos últimos três anos, resultando em uma queda expressiva nos crimes violentos e homicídios. Dados do governo salvadorenho indicam que a taxa de assassinatos caiu de 107 por 100 mil habitantes em 2015 para 1,9 em 2024, um contraste marcante com o passado, quando o país era considerado um dos mais perigosos do mundo. O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, atribuiu o progresso às medidas de Bukele, que incluem prisões em massa e a construção do Centro de Confinamento do Terrorismo (Cecot), uma megaprisão que abriga milhares de detentos. A visita de Bukele à Casa Branca, marcada para 14 de abril, reforça a cooperação entre os dois países, incluindo o uso da prisão para deportados dos EUA.
Enquanto isso, países europeus como França, Reino Unido, Itália, Alemanha, Espanha e Suécia permanecem no Nível 2 devido a preocupações com terrorismo e, em alguns casos, agitação civil. O alerta para a França cita o risco de ataques terroristas em locais turísticos e centros de transporte, enquanto o Reino Unido enfrenta ameaças de grupos extremistas e episódios isolados de violência na Irlanda do Norte. A Espanha também é mencionada por possíveis atos de terrorismo, e a Suécia, embora estável, é listada por riscos semelhantes. Esses fatores, segundo o Departamento de Estado, justificam maior cautela, mesmo em nações com infraestrutura robusta e índices de criminalidade relativamente baixos.
O contraste é notável. El Salvador, que há menos de uma década registrava uma média de 18 homicídios diários, agora é comparado a países como Noruega e Suíça, também no Nível 1. No entanto, a transformação tem um custo. A Human Rights Watch reportou que as operações de Bukele resultaram em mais de 85 mil prisões desde 2022, muitas sem devido processo, com até 21 mil inocentes potencialmente detidos. Casos de maus-tratos e mortes em prisões também foram documentados, gerando críticas de organizações internacionais. Apesar disso, a população local e muitos observadores externos veem o modelo como eficaz, com o turismo em alta – 3,4 milhões de visitantes em 2024, segundo o Ministério do Turismo salvadorenho.
Na Europa, os desafios são diferentes. Dados da Eurostat mostram que a taxa média de homicídios na União Europeia é de 0,9 por 100 mil habitantes, mas incidentes como os ataques terroristas em Paris (2015) e Londres (2017) mantêm a percepção de risco. A Alemanha, com 0,8 homicídios por 100 mil, enfrenta tensões relacionadas à migração, enquanto a Suécia, com 1,1, lida com crimes esporádicos em áreas urbanas. Esses números, embora baixos, contrastam com a narrativa de estabilidade absoluta, influenciando as classificações americanas.
A elevação de El Salvador ao Nível 1 é um reconhecimento de resultados tangíveis, mas também um convite à reflexão sobre o equilíbrio entre segurança e liberdades individuais. Enquanto países europeus navegam suas próprias complexidades, o caso salvadorenho destaca como políticas decididas podem alterar rapidamente a percepção de um destino, para o bem ou para o debate.