O primeiro-ministro do Japão, Shigeru Ishiba, anunciou em 7 de abril de 2025 que está pronto para visitar os Estados Unidos o mais rápido possível e negociar diretamente com o presidente Donald Trump sobre as tarifas recíprocas impostas em 2 de abril. Durante uma sessão no Parlamento japonês, Ishiba expressou sua intenção de abordar as taxas de 24% aplicadas às exportações japonesas e de 25% sobre automóveis, que entraram em vigor em duas fases – 5 e 9 de abril –, como parte da política de Trump conhecida como “Dia da Libertação”. A declaração reflete a urgência de Tóquio em mitigar o impacto econômico dessas medidas, que ameaçam a economia japonesa, fortemente dependente de exportações.
Ishiba já havia conversado com Trump por telefone no mesmo dia, em uma ligação de 25 minutos, na qual expressou “fortes preocupações” sobre as tarifas, que considera “extremamente decepcionantes”. Ele argumentou que o Japão, maior investidor estrangeiro nos EUA por cinco anos consecutivos, poderia ter sua capacidade de investimento prejudicada. “Não queremos apenas pedir isenção, mas apresentar um pacote que mostre o que o Japão pode oferecer como aliado próximo”, disse Ishiba a repórteres, sugerindo uma abordagem que inclua benefícios mútuos, como maior compra de gás natural liquefeito americano ou investimentos adicionais. Ambos os líderes concordaram em designar ministros para continuar as discussões, e Trump confirmou que o Japão enviará uma equipe de alto nível para negociar.
A iniciativa japonesa ocorre em um contexto de turbulência econômica global desencadeada pelas tarifas de Trump, que variam de 10% a 50% para mais de 180 países. No Japão, o índice Nikkei 225 caiu 7,9% em 7 de abril, refletindo o temor de perdas em setores como o automotivo, que responde por cerca de 3% do PIB nacional. Analistas do Daiwa Institute preveem que as tarifas possam reduzir o crescimento econômico japonês em até 0,8%, após um avanço de apenas 0,1% em 2024. Ishiba classificou a situação como uma “crise nacional” e instruiu seu governo a monitorar os mercados e apoiar pequenas empresas afetadas, enquanto evita, por ora, retaliar com tarifas próprias, uma postura que contrasta com a resposta da China, que elevou taxas para 34%.
A relação entre Ishiba e Trump, que se reuniram pela primeira vez em fevereiro de 2025 na Casa Branca, é vista como um teste para a diplomacia japonesa. Diferente de seu antecessor Shinzo Abe, que cultivou laços pessoais com Trump, Ishiba enfrenta um cenário mais desafiador, com o presidente americano mantendo uma retórica firme sobre déficits comerciais – o dos EUA com o Japão foi de US$ 68 bilhões em 2024, segundo o USTR. Apesar disso, Trump descreveu as negociações como parte de parâmetros “duros, mas justos” em uma postagem no Truth Social, indicando abertura ao diálogo com o Japão, um aliado militar e econômico crucial no Indo-Pacífico.
Enquanto Ishiba prepara sua visita – ainda sem data confirmada, mas sinalizada como iminente –, o Japão busca replicar o sucesso de países como o Vietnã, que já propôs zerar tarifas em troca de um acordo. A estratégia reflete um equilíbrio entre proteger a economia doméstica e manter a parceria estratégica com os EUA, em um momento em que o comércio global enfrenta uma redefinição sob a liderança de Trump.