O vice-primeiro-ministro da Itália, Matteo Salvini, líder do partido Liga, causou repercussão ao reagir à condenação da política francesa Marine Le Pen, presidente do Reunião Nacional (RN), em 31 de março de 2025. Salvini declarou que a decisão judicial que impôs quatro anos de prisão e cinco anos de inelegibilidade a Le Pen por desvio de fundos do Parlamento Europeu é equivalente a “uma declaração de guerra de Bruxelas”. A afirmação, feita em um comunicado oficial e amplificada nas redes sociais, reflete a visão do político italiano de que a sentença seria uma tentativa da União Europeia (UE) de silenciar vozes dissidentes, em especial as de líderes nacionalistas como Le Pen.
A condenação de Le Pen está ligada a um esquema de desvio de cerca de 4,1 milhões de euros entre 2004 e 2016, quando ela e outros membros do então Frente Nacional (atual RN) teriam utilizado recursos da UE para pagar funcionários do partido na França, em vez de atividades parlamentares em Bruxelas. O tribunal de Paris considerou-a culpada, aplicando uma pena que inclui dois anos de prisão com pulseira eletrônica e a proibição de ocupar cargos públicos, o que a exclui da eleição presidencial francesa de 2027, na qual era vista como favorita. Salvini, aliado histórico de Le Pen no grupo Patriotas pela Europa no Parlamento Europeu, interpretou o veredicto como um ataque político orquestrado pelas instituições da UE.
“Quem teme o julgamento dos eleitores muitas vezes busca segurança no julgamento dos tribunais. Em Paris, condenaram Marine Le Pen e gostariam de excluí-la da vida política”, afirmou Salvini. Ele comparou a situação a casos em outros países, como a exclusão do candidato pró-russo Călin Georgescu na Romênia, sugerindo um padrão de interferência de Bruxelas contra figuras da extrema-direita. O italiano também criticou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o presidente francês, Emmanuel Macron, acusando-os de impulsos bélicos que, segundo ele, ameaçam a soberania nacional dos estados-membros da UE.
A reação de Salvini não foi isolada. Líderes da extrema-direita europeia, como o premiê húngaro Viktor Orbán (“Je suis Marine”) e o espanhol Santiago Abascal (“Não calarão o povo francês”), também manifestaram apoio a Le Pen, reforçando a narrativa de que a condenação é um ataque à democracia. No entanto, a posição de Salvini se destaca por seu tom beligerante e pela acusação direta à UE, alinhando-se à sua postura tradicional de crítica às políticas centralizadoras de Bruxelas. Enquanto isso, o governo italiano de centro-direita, liderado por Giorgia Meloni, adotou uma abordagem mais cautelosa, com partidos como Fratelli d’Italia e Forza Italia evitando endossar plenamente as palavras de Salvini.
O caso de Le Pen, que anunciou intenção de recorrer da sentença, reacende debates sobre a relação entre justiça e política na Europa. Para Salvini e seus aliados, a decisão é uma prova de que as instituições europeias buscam suprimir movimentos que desafiam o status quo. A controvérsia promete manter-se viva, especialmente com as manifestações de apoiadores e opositores de Le Pen em Paris e o impacto potencial nas dinâmicas políticas do continente.