O primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, enfrenta um impasse nas negociações para um acordo de livre comércio com os Estados Unidos, após um aviso claro do governo de Donald Trump em 31 de março de 2025: “Sem liberdade de expressão, nada de livre comércio”. A declaração, emitida pelo Departamento de Estado americano, reflete preocupações sobre restrições à liberdade de expressão no Reino Unido, colocando em xeque as ambições de Starmer de evitar as tarifas globais impostas por Trump, que entraram em vigor em 2 de abril, apelidado de “Dia da Libertação”. O embate expõe uma tensão crescente entre os dois aliados históricos, em um momento em que o Reino Unido busca proteger sua economia de um impacto devastador.
A origem da controvérsia está na percepção americana de que o Reino Unido tem restringido direitos fundamentais, exemplificada pelo caso de Livia Tossici-Bolt, uma ativista pró-vida processada por protestar pacificamente perto de uma clínica de aborto em Bournemouth. Segurando um cartaz com a mensagem “Aqui para conversar, se quiser”, ela foi acusada de violar uma zona de exclusão, e seu julgamento, previsto para 4 de abril, atraiu a atenção do governo Trump. O Departamento de Estado afirmou que está “monitorando” a situação, sugerindo que o resultado pode influenciar as negociações comerciais. Para os EUA, a liberdade de expressão é uma condição inegociável, um princípio que ressoa com a visão de Trump de priorizar valores americanos em acordos internacionais.
Starmer, que assumiu o cargo com a promessa de fortalecer laços econômicos pós-Brexit, vê suas esperanças ameaçadas pelas tarifas, que incluem uma taxa base de 10% sobre exportações britânicas e 25% sobre automóveis, afetando gigantes como Jaguar Land Rover. O Office for Budget Responsibility estima que uma guerra comercial total poderia reduzir o PIB britânico em 1%, um golpe duro para uma economia já projetada para crescer apenas 0,7% em 2025, segundo a Barclays. Apesar disso, o premiê optou por uma abordagem cautelosa, rejeitando reações impulsivas. “Estamos trabalhando em um acordo econômico com os EUA, e as negociações estão avançadas. Ninguém quer uma guerra comercial”, declarou ele em 1º de abril, mantendo todas as opções abertas, mas evitando retaliações imediatas como as da União Europeia e do Canadá.
A pressão americana não é apenas econômica, mas também ideológica. A administração Trump, incluindo o vice-presidente JD Vance, critica leis britânicas como a Online Safety Act, vista como uma ameaça à liberdade de expressão por possibilitar multas a empresas de tecnologia, muitas delas americanas. Esse embate reflete um contraste entre a postura protecionista de Trump e a busca de Starmer por um equilíbrio entre regulação doméstica e pragmatismo internacional. Enquanto isso, vozes conservadoras no Reino Unido, como a Free Speech Union, apoiam tacitamente a crítica dos EUA, vendo nas restrições uma erosão de valores tradicionais que deveriam ser defendidos.
O futuro das negociações permanece incerto. Starmer aposta em uma diplomacia discreta, inspirada na abordagem do ex-premiê japonês Shinzo Abe com Trump, mas o tempo joga contra ele. Com as tarifas já afetando os mercados – o S&P 500 caiu 4,85% em 3 de abril –, o Reino Unido precisa demonstrar avanços concretos em direitos fundamentais para destravar um acordo. A situação testa a habilidade do governo trabalhista de navegar um cenário global volátil, onde economia e princípios se entrelaçam de forma indissociável.