Em um evento marcante no Bosque Expo, em Campo Grande, o segundo painel do “Delas Day”, promovido pela Secretaria de Estado da Cidadania de Mato Grosso do Sul nos dias 26 e 27 de março de 2025, trouxe à tona o tema “Mulher, Democracia e Participação Política”. Realizado como parte das celebrações do Mês da Mulher, o debate reuniu lideranças femininas do estado que, com suas trajetórias inspiradoras, reforçaram a importância da presença feminina nos espaços de poder. Mediado pela secretária de Cidadania, Viviane Luiza, o painel destacou histórias de superação e luta, mostrando que a política é, sim, um território a ser ocupado por mulheres.
Entre as participantes estavam a prefeita de Campo Grande, Adriane Lopes, a senadora Tereza Cristina, a deputada estadual Mara Caseiro, a vereadora de Antônio João, Inaye Lopes Kaiowá, e a diretora nacional do Sebrae, Margarete Coelho. Cada uma compartilhou experiências que evidenciam os desafios enfrentados por mulheres na política, desde preconceitos estruturais até a necessidade de provar competência em um ambiente historicamente dominado por homens. Viviane Luiza abriu o evento com dados da ONU, apontando que, dos 36 mil assentos parlamentares no mundo, apenas 26% são ocupados por mulheres, um reflexo da sub-representação que persiste globalmente.
Adriane Lopes, primeira mulher eleita prefeita de Campo Grande, emocionou a plateia ao narrar sua jornada, que começou vendendo sorvetes de porta em porta para custear a faculdade de Direito. “Foram dois anos e oito meses como empossada, e me diziam: ‘ela não é legítima, ela só assumiu um cargo e quem manda é o marido dela’”, lembrou, destacando os comentários machistas que enfrentou. Sua mensagem às mulheres foi clara: “A paridade nos espaços de poder é discutida, mas nem sempre praticada. Estou abrindo portas para outras.” Sua gestão, segundo ela, é uma prova concreta de que a presença feminina pode transformar realidades.
A senadora Tereza Cristina, por sua vez, enfatizou a necessidade de coragem e união entre as mulheres. “O mundo ainda é machista, mas somos a maioria da população, preparadas e qualificadas. Quero ver mais mulheres no Mato Grosso do Sul fazendo boa política, representando a todas nós – e por que não os homens também?”, declarou. Sua fala ressoou como um convite para que as mulheres deixem a zona de conforto e ocupem espaços tradicionalmente reservados aos homens, desafiando a ideia de que política é um campo exclusivamente masculino.
Margarete Coelho, ex-deputada federal e primeira vice-governadora do Piauí, trouxe uma análise crítica sobre as barreiras estruturais. “Os partidos foram feitos por homens e para homens. Nas famílias, a herança política é dos homens, não das mulheres”, observou. Ela também apontou um obstáculo cultural: “O check-list de uma mulher para votar em outra é enorme. Dizem ‘ela não me representa’ por ser dona de casa ou por não ser o que esperam.” Para Margarete, mudar essa mentalidade exige que as mulheres se candidatem e participem ativamente, mesmo enfrentando derrotas, pois “perder uma eleição não é feio, mas não participar é pior”.
Inaye Lopes Kaiowá, vereadora indígena em seu segundo mandato em Antônio João, trouxe a perspectiva das comunidades tradicionais. Mestre em História pela UFGD, ela relatou como decidiu entrar na política para dar voz aos povos Kaiowá. “Não foi fácil disputar votos, mas temos que ter estratégia. Mulheres indígenas também não votam em mulheres ou candidatos indígenas por vezes, mas precisamos mudar isso, andar de mãos dadas para vencer esse desafio”, afirmou. Sua trajetória é um exemplo de como a política pode ser um instrumento de inclusão e resistência.
Mara Caseiro, deputada estadual, completou o painel com sua história de luta por Eldorado, onde ingressou na política movida pelo desejo de mudar uma realidade de carências. Juntas, essas mulheres mostraram que a participação feminina não é apenas uma questão de representatividade, mas de fortalecimento da democracia. O evento, que colocou de lado diferenças partidárias, deixou uma mensagem poderosa: o lugar de mulher é onde ela decidir estar, e a política, cada vez mais, se torna um desses espaços essenciais.