O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou, em 29 de março de 2025, durante uma visita oficial ao Vietnã, que está disposto a dialogar diretamente com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para abordar as tarifas impostas sobre produtos brasileiros. “Na hora que eu sentir necessidade de conversar com o presidente Trump, eu não terei nenhum problema de ligar para ele. Na hora que ele achar que tem interesse em conversar comigo, eu espero que ele não tenha problema de ligar para mim”, afirmou Lula em entrevista a jornalistas em Hanói. A declaração reflete uma postura de abertura ao diálogo, mesmo diante de divergências ideológicas, em um momento de crescente tensão comercial entre os dois países.
A política tarifária de Trump, que inclui uma taxa de 25% sobre aço e alumínio brasileiros desde 12 de março e uma tarifa adicional de 25% sobre automóveis fabricados fora dos EUA a partir de 2 de abril, tem gerado preocupação no governo brasileiro. Lula destacou que o Brasil busca esgotar todas as possibilidades de negociação antes de recorrer a medidas mais drásticas, como ações na Organização Mundial do Comércio (OMC) ou a imposição de tarifas recíprocas. “Antes de fazer a briga da reciprocidade ou a briga da OMC, a gente quer gastar todas as palavras que estão no nosso dicionário para fazer um livre comércio com os EUA”, disse o presidente, sinalizando uma preferência por soluções negociadas.
O contexto da fala de Lula está diretamente ligado às exportações brasileiras, que enfrentam barreiras crescentes no mercado americano. Ele mencionou negociações em curso com os EUA, citando reuniões já realizadas pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, com representantes comerciais americanos. Entre os temas em pauta, está a tentativa de viabilizar a venda de cerca de 50 aviões da Embraer, uma das maiores empresas brasileiras, ao mercado internacional, incluindo o Vietnã, onde Lula também confirmou avanços comerciais com a JBS para a exportação de carne.
A abordagem de Lula contrasta com as críticas que ele já fez à política unilateral de Trump, que, segundo o presidente brasileiro, prejudica o multilateralismo e o livre comércio global. Ainda assim, sua disposição em manter canais abertos de comunicação reflete uma estratégia pragmática para proteger os interesses econômicos do Brasil, que mantém um déficit comercial com os EUA, mas depende de exportações estratégicas como aço, alumínio e produtos agrícolas. A balança comercial bilateral, que em 2024 registrou um volume de cerca de 7,7 bilhões de dólares com o Vietnã, por exemplo, mostra o esforço do governo em diversificar mercados, mas os EUA seguem como um parceiro crucial.
O governo brasileiro tem monitorado de perto os impactos das tarifas americanas, especialmente em setores como o siderúrgico, que emprega milhares de trabalhadores e é essencial para a economia nacional. Enquanto isso, a Casa Branca defende as medidas como parte da agenda “America First”, alegando a necessidade de equilibrar a balança comercial e proteger a indústria local. Para Lula, no entanto, os EUA “não estão sozinhos no planeta Terra”, uma crítica velada à postura isolacionista que pode afetar relações históricas, como os 200 anos de laços diplomáticos entre Brasil e Estados Unidos celebrados em 2025.